Publicado originalmente a 9 de janeiro de 2025
O novo filme do autor de “Terra Estrangeira”, “Central do Brasil” e “Diários de Che Guevara” toca numa ferida aberta na história do Brasil, uma vez que, tal como o cineasta carioca dirá nesta entrevista, “ninguém foi preso por participar na ditadura militar” do seu país. O ponto de partida é o livro homónimo de 2015 escrito por Marcelo Rubens Paiva, um dos cinco filhos de Rubens Paiva (1929-1971), engenheiro e ex-deputado detido no início da década de 70 na sua casa do Leblon, Rio de Janeiro, no período político mais negro daqueles anos de chumbo. O seu corpo jamais foi encontrado. Eunice Paiva (1929-2018), matriarca da família, formada em Direito, deu então início a uma batalha jurídica que ficou para a história, repondo a verdade sobre o assassínio do marido. A advogada tornou-se um símbolo nacional da luta contra a ditadura. Tal como o livro, é em Eunice que a obra de Salles se centra — um papel extraordinário de Fernanda Torres, complementado por Fernanda Montenegro nas cenas finais, nos anos de velhice da personagem. Filme e atriz estão agora na rota dos prémios que se avizinham. Décadas depois de a mãe, Fernanda Montenegro, ter perdido o Óscar em 1999 com “Central do Brasil”, resta saber se a filha, Fernanda Torres, conseguirá lá chegar com outro filme de Walter Salles, emotivo e justo no tom, avesso a sentimentalismos. Para já, o Brasil recebeu-o de braços abertos. A 2 de dezembro último falei com Salles em demorada conversa gravada nos jardins do Mamounia, no âmbito da última edição do Festival de Marraquexe, em Marrocos, que lhe prestou homenagem.
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