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Na Índia ninguém diz “eu amo-te”: “Tudo o que Imaginamos como Luz” é um dos mais belos filmes do ano

Duas amigas – Prabha, enfermeira de meia-idade, e Anu, sua colega – tecem uma teia de cumplicidades e partilhas
Duas amigas – Prabha, enfermeira de meia-idade, e Anu, sua colega – tecem uma teia de cumplicidades e partilhas

“All We Imagine as Light - Tudo o que Imaginamos como Luz”, uma história de mulheres assinada por Payal Kapadia, é a prova definitiva de que a ficção contemporânea não pode ignorar a Índia. “O amor é uma questão política e, na Índia, mais ainda. Saber com quem podemos casar é um assunto complexo. A casta e a religião exercem uma influência profunda no que nós somos e na escolha da pessoa com quem vamos passar as nossas vidas”, diz ao Expresso a realizadora do filme vencedor do Grand Prix de Cannes

Sem notícias do marido há anos desde que ele emigrou para a Alemanha, Prabha (Kani Kusruti), uma enfermeira indiana de meia-idade em Bombaim, habituou-se a viver com a mágoa dessa ausência, fechando as portas da sua vida sentimental à possibilidade de um novo encontro. Já Anu (Divya Prabha), colega de trabalho mais jovem com quem Prabha divide casa, namora em segredo com um homem da sua idade que não tem o direito de amar, pois a família dele é muçulmana. À medida que conhecemos a sua rotina quotidiana entre a casa e o trabalho, as duas amigas vão tecendo com vagar uma teia de cumplicidades sobre a esperança e o desejo de liberdade; uma partilha tácita que as conforta e lhes afaga os dias e as noites, entre o hospital e as luzes azul-cinza da grande metrópole em que chove copiosamente (a rodagem coincidiu com a época das monções), recheada por uma miríade de pequenas lojas, restaurantes e uma rede de transportes a perder de vista. “All We Imagine as Light”, segunda longa-metragem de Payal Kapadia e a sua primeira aventura ficcional nesta duração, sublime trabalho, avance-se já, distinguido em Cannes com o Grand Prix (três décadas após o último representante indiano a concurso na secção maior da Croisette), é um triunfo deste final de ano. Um filme de sensibilidade rara, construído em filigrana, em torno da condição feminina de um país com o tamanho de um continente e de uma infinita complexidade a nível social e cultural.

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