“A senhora é que teve sorte, ao menos não foi obrigada a passar a juventude com um hijab a cobrir-lhe a cabeça”, diz às tantas uma jovem mulher na casa dos 20 anos à protagonista, que tem 70. Mahin, solitária avó de Teerão, acabou de salvá-la de uma rusga da Polícia da Moralidade, essa aberração de Estado criada para castigar as mulheres. Mahin fez-lhes frente, disse-lhes das boas, sem medo. Víúva e reformada, com filhos e netos no estrangeiro, passa agora os dias com amigas que tacitamente se vigiam, a tentar arranjar sentido para a sua existência. Tem apartamento amplo, com terraço, um regalo, é mulher culta e instruída, mas está sozinha. Ainda recorda as canções românticas de uma vida anterior à chegada dos aiatolás, em que as mulheres no Irão eram livres (ou, pelo menos, donas da escolha do seu guarda-roupa).
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