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Artes Plásticas

Exposições: Na casa de Carlos Nogueira, tudo acaba mas nada se perde

Uma escrita que vibra na parede, onde cada peça funciona como um elemento
Uma escrita que vibra na parede, onde cada peça funciona como um elemento
Antonio Jorge Silva

A “casa” de Carlos Nogueira é um livro, parede a parede, uma escrita de coisas que dançam diante dos nossos olhos. No Palácio Anjos, em Algés, até 29 de dezembro

A água corre, escorre, desenha, nada se perde, e o desenho tanto pode ficar marcado na terra que pisamos como nas paredes de uma exposição a preto e branco ou, como diria Carlos Nogueira, a noite e claro. A água neste caso condensou-se em materiais tais como: o vidro, transparente ou translúcido, o papel, o acrílico, o ferro, o aço, a madeira, o carvão, o esmalte, o zinco, a argila, a parafina, a goma laca, contando ainda com caneta e lápis e grafite, como que para sublinhar que tudo ali é desenho, um desenho talvez inesperado nos materiais mas desenho. Estamos no território dos materiais, das coisas quase perdidas mas sempre recuperáveis, que também lá encontramos numa longa “estante modular em aço inoxidável” com 142 presenças, das mais variadas coisas ou fragmentos delas, restos, vidas quietas da oficina de Carlos Nogueira — tudo sob um título bem significativo, “Da Natureza das Coisas Tudo Acaba” —, mas acaba devagar, como em Alcácer Quibir, e é por isso que também devemos atentar no tempo destas obras através de algumas datas, umas mais antigas (1980), outras muito próximas (2023), e, entre umas e outras, naquelas obras que se transformam longamente ou que o artista “ressuscita”, do “Estudo de Riscado para Uma Camisa sem Bolsos” (1981-2010) aos desenhos de casa (2016-2023). Por aqui se vê como o domínio do tempo se pode estender, dilatando a vida das obras, transformando restos, tudo acaba, sim, mas tudo continua num tempo e num “mundo composto de mudança/ tomando sempre novas qualidades”, tema camoniano que Nogueira em tempos glosou, citou e do qual nunca se esqueceu.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.

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