Morreu Nuno Júdice, um poeta que "não se parecia com nenhum outro"

O premiado poeta e professor universitário nasceu em 1949 no Algarve
O premiado poeta e professor universitário nasceu em 1949 no Algarve
Jornalista
O poeta Nuno Júdice morreu. A informação foi transmitida pelo Presidente da República numa nota publicada no seu site este domingo, 17 de março.
"Nuno Júdice foi um autor decisivo numa época de transição da poesia portuguesa, entre as tendências experimentais da década de 1960 e o tom mais quotidiano dos anos 80 e seguintes. E mesmo no contexto da geração de 70, a que pertencia, não se parecia com nenhum outro, com os seus versos por vezes longos, discursivos, meditativos, o tom tardo-romântico, as interrogações sobre a noção de poema, mais tarde o pendor evocativo, melancólico ou irónico", escreve Marcelo Rebelo de Sousa.
Premiado autor, recebeu o Prémio Ibero-Americano Sofia em 2013. Nesse ano, numa pequena entrevista publicada hoje pelo "El País", Nuno Júdice apresentava-se como "um operário da escrita". "Obrigo-me a escrever todos os dias. Escrever é a minha vida. Gosto de fazê-lo, não vivo disso, mas está na minha maneira de ser", revelava.
Nascido no Algarve (Mexilhoeira Grande, Portimão), em 1949, o também professor universitário tem uma obra de meio século. “Uma Colheita de Silêncios” foi a obra editada em 2023, pela Dom Quixote, um ano depois do “50 anos de poesia”. “Os passos da cruz”, “Geometria variável” e “A matéria do poema” são obras da sua bibliografia.
"Foi com profundo pesar e sentida consternação que na Leya e principalmente na Dom Quixote tomamos conhecimento da triste notícia do falecimento de Nuno Júdice, hoje, em Lisboa, vítima de doença. Uma notícia que abalou todos os que trabalharam mais de perto com Nuno Júdice mas, com toda a certeza, todos os seus muitos leitores e admiradores. E que sem dúvida deixa mais pobre a literatura e a poesia portuguesas", aponta o comunicado enviado à Lusa pela editora.
Na sua nota, Marcelo Rebelo de Sousa lembra que “Nuno Júdice foi igualmente professor na Universidade Nova de Lisboa; ensaísta com obra publicada no âmbito da literatura portuguesa da Idade Média à atualidade; um ficcionista inesperado e inventivo; tradutor e organizador de antologias; diretor de revistas literárias como a ‘Tabacaria’ e a ‘Colóquio-Letras’; e exerceu funções de conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Paris, onde também dirigiu o Instituto Camões”.
Ainda em 2022, o poeta que foi professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa até 2015 revelou ter descoberto um soneto de Luís de Camões, “Cristo Atado à Coluna”, num manuscrito datado de 1666. Encontrou-o na Biblioteca Digital Hispânica, onde se encontram vários outros poetas “do barroco, que merecem ser melhor estudados”, disse, na altura, à agência Lusa.
Além dos prémios literários em Portugal e Espanha, Nuno Manuel Gonçalves Júdice Glória foi também agraciado com Ordens Honoríficas em Portugal, primeiro Oficial da Ordem Santiago da Espada, em 1992, depois Grande-Oficial, em 2013.
Notícia atualizada com mais informações pelas 21h30
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