
Num dos seus melhores romances, Enrique Vila-Matas volta a oferecer-nos uma narrativa saturada de literatura, extraordinário labirinto que nunca se fixa
Num dos seus melhores romances, Enrique Vila-Matas volta a oferecer-nos uma narrativa saturada de literatura, extraordinário labirinto que nunca se fixa
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Protagonista sem nome, atormentado e esquivo, o narrador de “Montevideu” pertence à vasta galeria de personagens vila-matianas que sofrem, em variados graus, daquilo a que se pode chamar “doença da literatura” — isto é, a tentativa obsessiva de inscrição no mundo através do poder da palavra, seja pelo exercício da escrita literária, seja pela leitura e comentário do que outros escreveram, seja ainda pela recusa ou abandono do estatuto de escritor.
No primeiro capítulo do livro, intitulado ‘Paris’, o narrador conta como foi viver para a capital francesa, nos anos 70, para se converter num literato “dos anos vinte, estilo ‘geração perdida’”, embora rapidamente tenha trocado essas aspirações de grandeza pela venda de drogas a turistas norte-americanos, o que o levava a despedir-se de toda a gente dizendo que deixara de escrever, quando a verdade é que nunca o fizera verdadeiramente (à exceção de um único livrinho que pouco mais era do que um exercício de estilo sobre “a destruição da família burguesa”). Eis, em todo o seu esplendor, a “poética de querer abandonar a obra antes de que houvesse obra”.
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