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Cultura

Sebastião Salgado (1944-2025): "O problema da nossa espécie é que vivemos muito pouco; no máximo, cem anos. Acabámos de chegar ao planeta"

Em outubro de 2022, na apresentação da exposição "Amazônia", em Los Angeles, nos Estados Unidos da América
Em outubro de 2022, na apresentação da exposição "Amazônia", em Los Angeles, nos Estados Unidos da América
Matt Winkelmeyer

Em março de 2015, Sebastião Salgado dava uma longa e fascinante entrevista ao Expresso, em Paris. Recuperamos a entrevista no dia da morte de um dos mais aclamados fotógrafos de sempre, que em 2015 dizia: “Para fotografar um leão, uma formiga, uma baleia, você tem de aceitar o animal, tem de tentar compreender a dignidade desse animal, a sua personalidade, e respeitar o seu território, tal como acontece ao fotografar as pessoas”. Entrevista publicada originalmente a 28 de março de 2015

O espaço-tempo começou há 13,8 mil milhões de anos, com o Big Bang; a luz (fotões), que possibilita a observação e a fotografia, soltou-se 0,000.000.000.01 segundos depois. A Terra formou-se há 4,6 mil milhões de anos, e a vida (primeira célula) começou há 3,8 mil milhões de anos. Reza o Génesis que “a Terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo, e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas”. A Humanidade (Homo sapiens) nasceu em África há 200 mil anos. Os sete dias da Criação duraram, na verdade, a idade do Universo: 13,8 mil milhões de anos! Depois dos horrores e das tragédias que testemunhou no “Êxodos” — o seu anterior projeto, sobre as migrações e os campos de refugiados, as guerras e a fome em África, o conflito de terras e a urbanização caótica na América Latina e as novas megalópoles asiáticas —, Sebastião Salgado recuperou a esperança ao fotografar a Terra naquilo que ela ainda tem de mais puro e belo. “Génesis” é a sua “declaração de amor à Natureza”. Conhecemo-nos há quase 30 anos: contactei-o em 1987, quando fui encarregado pela Secretaria de Estado da Cultura de formar a Coleção Nacional de Fotografia. É graças à generosidade de Sebastião Salgado que a Coleção conta com dez fotografias suas (da Revolução de 25 de Abril e dos projetos da Serra Pelada, Sahel e “Outras Américas”). Desta vez encontrámo-nos no nordeste de Paris, à beira do canal Saint-Martin, na sua casa e sede de Amazonas Images, a agência que fundou em 1994 com a sua mulher, Lélia, depois de sair da Magnum. Uma longa conversa, regada pelo rescendente café brasileiro Dutra (das matas de Minas Gerais), moído à mão numa máquina artesanal do tempo dos nossos avós.

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