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A Arco Madrid 2023 começa hoje com 18 galerias portuguesas: traçamos um roteiro para a feira de arte contemporânea

Inauguração da Arco Madrid 2023
Inauguração da Arco Madrid 2023
Getty Images

A edição de 2023 da Arco Madrid tem como tema central “Mediterrâneo: Um Mar Redondo” e conta com a presença de 210 galerias, 18 delas portuguesas. Entre as infinitas possibilidades, deixamo-nos guiar pelas escolhas de especialistas

A partir desta quarta-feira, e durante o fim de semana, Madrid volta a ser a capital da arte contemporânea, contaminando toda a cidade de ambiente de festa. Nesta 42ª edição da Arco Madrid, que tem como tema central “Mediterrâneo: Um Mar Redondo”, são grandes as expectativas dos organizadores que preveem receber cerca de 90 mil visitantes — no ano passado receberam 75 mil — um número crescente, já bem mais próximo ao dos anos anteriores à pandemia.

Das 212 galerias provenientes entre os 36 países que irão ocupar dois pavilhões do IFEMA, o recinto onde decorre a feira, fazem parte do programa geral 170 galerias, algumas delas a participar pela primeira vez na Arco. As restantes irão ocupar os espaços comissariados, como é o caso de Opening by Allianz, dedicado a novas galerias e aos artistas emergentes, ou Nunca o Mesmo — Arte Latino-Americana, uma das grandes apostas da ArcoMadrid 22, que segue privilegiando os laços com todos os países de língua espanhola e onde também se inclui o Brasil. Por tradição e proximidade geográfica, galeristas e colecionadores sempre privilegiaram a ligação à feira internacional espanhola. Nesta edição, Portugal é o quarto país com maior presença, depois de Alemanha, França e Espanha, com 18 galerias representadas.

Na possibilidade de nos perdermos num labirinto infindável de propostas, seguimos um percurso traçado por António Cachola — em 2016 recebeu o Prémio A, atribuído pela Fundação Arco, a colecionadores e cuja coleção se pode visitar no Museu de Arte Contemporânea de Elvas — e Verónica de Mello, curadora independente, observadora assídua de feiras internacionais e que vive em Madrid. Para ambos, “absolutamente obrigatória”, é a presença de José Pedro Croft, que apresenta nesta Arco Madrid uma obra de grande escala produzida em 2011, destaque maior da galeria espanhola Helga Alvear.

Continuando nas galerias nacionais, o colecionador destaca na Vera Cortês a presença de Carlos Bunga, artista em grande projeção que acabou de inaugurar em Valência uma exposição e estará simultaneamente exposto na Elba Benitez, uma das galerias mais emblemáticas da capital espanhola. “A minha identidade enquanto colecionador está ligada à produção dos artistas portugueses. Neste sentido, o que mais me interessa na feira é ver o que as galerias nacionais nos propõem”, sublinha António Cachola. Entre a lista que Francisco Fino apresenta, sugere uma especial atenção para a obra de escultura e vídeo de Vasco Araújo e para alguns emergentes, como Daniela Ângelo, uma artista “muito promissora” que passou a integrar esta galeria em janeiro. Também “não se deve perder oportunidade” de conhecer a obra de Adriana Proganó, vencedora em 2022 do Prémio Jovens Artistas da Fundação EDP, que estará presente na Galeria 3+1, ou a peça de Fernão Cruz, “um jovem que tem já uma carreira muito interessante e mostra na Galeria Cristina Guerra uma pintura de grandes dimensões, que tem simultaneamente incorporada uma peça de escultura”.

O artista português José Pedro Croft mostra uma obra de grande escala produzida em 2011

Ainda no campo dos emergentes, agora na Lehmann+Silva, “uma jovem com um trabalho muito interessante e que poderá ter um futuro incrível”, é Alice dos Reis. No stand de Pedro Cera, “com uma presença muito forte na feira”, com artistas nacionais “todos de grande qualidade”, destaca as obras de Ana Manso, Bruno Pacheco e Gil Heitor Cortesão. Seguindo para a Balcony, podemos revisitar os trabalhos de Ana Vidigal e, por fim, na galeria Bruno Múrias, Cachola destaca os trabalhos de Jorge Queirós, “um artista representado em várias coleções importantes”, e de Alexandre Estrela, que este ano vai ter uma exposição no MoMa, em Nova Iorque, que, pela primeira vez, expõe um artista português.

Dagoberto Rodriguez, artista cubano com obras representadas nos grandes museus do mundo, apresenta a peça “Túnel de Lego” (2022), sobre campos de refugiados e deslocação de populações

Já Verónica Mello propõe uma deambulação pelas várias secções da feira, destacando o nome de Dagoberto Rodriguez, artista cubano com obras representadas nos grandes museus do mundo e que expõe na galeria Peter Kilchmann. “A sua prática inclui desenho, aguarela e vídeo, utilizando a sátira e o humor como crítica política e social, e sempre atento as problemáticas contemporâneas, como por exemplo questões climáticas. Na Arco vai apresentar a peça ‘Túnel de Lego’, realizada em 2022, sobre campos de refugiados e deslocação de populações”, revela. Para a curadora independente, outra visita obrigatória é à Galeria Carlier Gebauer, com sede em Berlim e Madrid. Individualmente, destaca os nomes de Lucia Koch, Laure Prouvost, Oscar Muñoz, a “consagrada Julie Mehretu” ou o fotógrafo alemão Thomas Schütte. Também a não perder, a mexicana Teresa Margolles, “uma artista conceptual fortíssima, incontornável da cultura sul-americana, que trabalha sobre a morte”. Ainda no território da América do Sul, um dos convidados em “20 Projetos de Artista” é o argentino Marcelo Brodsky, ativista de direitos humanos, que propõe um trabalho gráfico de pintura em tecido. Verónica Mello sugere uma passagem pelo espaço Opening by Allianz, onde na Galeria Foco podemos conhecer o trabalho de Maria Appleton, “uma artista muito jovem, mas com um percurso muito rico e muito sensual do ponto de vista estético, que trabalha com tecido e tem uma sensibilidade muito particular para o desenho cromático.”

“Todos os mapas são traçados segundo o olhar de quem se posiciona. Daí a nossa proposta do ‘mar redondo’, que não tem ponto de partida ou de chegada”, considera a curadora Marina Fokidis

Outras propostas importantes são apresentadas por Marina Fokidis, responsável pelo programa “Mediterrâneo: Um Mar Redondo”. Em 2014, a escritora grega foi a curadora-conselheira da Documenta, de Kassel, para a qual fundou a revista de arte “Kunsthalle Athena” e o jornal “South as a State of Mind”, onde explorava as problemáticas inerentes às condições dos países considerados geoperiféricos. Fokidis assume que o centro do seu trabalho envolve sempre um pensamento politicamente comprometido, referindo numa conversa telefónica entre Atenas e Lisboa que foi precisamente por conhecer bem o seu trabalho que Maribel Lopez, diretora da feira, a convidou para organizar um programa em torno das produções artísticas dos países mediterrânicos.

Com a colaboração da artista franco-marroquina Bouchra Khalili, da curadora e cineasta israelita Hila Peleg e do artista e investigador andaluz Pedro Romero, que trabalha sobre psicogeografias, urbanismos comunitários e comunidades nómadas, foi traçado um périplo entre 13 países da orla deste “mar interior” e apresentado em 19 galerias locais e internacionais. Do Egito à Palestina, de Israel à Grécia ou de Marrocos à Croácia, lugares de identidades culturais e contextos tão diversos, “o que se pretende explorar é a relação que se movimenta nesta grande plataforma, este mar interior, cuja afinidade se encontra na palavra ‘Sul’”, indica a curadora. Assim, em Madrid, as vivências e os contextos artísticos, políticos, históricos e poéticos serão experienciados num programa que tanto leva à feira nomes consagrados, como o do grego Jannis Kounelis (1936-2017), com obra na Galeria Pelaires, como um coletivo de artistas flamengos ou de cineastas de Tânger.

“A ideia é partir das perspetivas que um espaço temporal, simultaneamente visual e metafórico, possa estimular, de modo que os participantes e os visitantes consigam pensar história e a contemporaneidade a partir do desejo e não de suposições culturais.” Norte/sul, cima/baixo, esquerda/direita: “todos os mapas são traçados segundo o olhar de quem se posiciona. Daí a nossa proposta do ‘mar redondo’, que não tem ponto de partida ou de chegada. Que gira e cria proximidade”, convoca Fokidis.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ASoromenho@expresso.impresa.pt

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