De Francisco Capelo, colecionador de arte e impulsionador decisivo da Coleção Berardo, recebemos este artigo de opinião que publicamos no mesmo dia em que é lançado um novo catálogo sobre esse acervo
Sem aviso prévio mas seguramente em datas pensadas, aterram com ruído e intenção de causar espanto e delírio sempre novas avaliações da chamada coleção Berardo. Os valores monetários anunciados são sempre com muitos zeros, crescendo no tempo a ritmo que não há tipo algum de inflação que lhe ouse competir.
A fonte destas avaliações é a mesma desde há 14 anos: Gary Nadar, galerista em Miami, mas também dado aos investimentos imobiliários, nascido na República Dominicana e que fez da arte da América Latina o seu nicho de mercado. Foi este galerista que vendeu a José Berardo em 2004 e 2005 um conjunto de obras onde somente as de Botero têm qualidade e valor.
É a este galerista de serviço que José Berardo e os seus advogados recorrem nos seus momentos judiciais críticos e que com o tempo se foi especializando em números de contos de fadas a lembrar as práticas de Donald Trump com os seus imóveis. Empolar os números faz barulho e se der judicialmente resultado permitirá pelo menos libertar parte dos bens arrestados que assim ficam disponíveis para venda.
A primeira avaliação de Gary Nadar surgiu em 2009, no contexto da garantia exigida pelos bancos pelas dívidas de José Berardo. O número anunciado foi de 571,1 milhões de euros comparado com os 316 milhões da avaliação profissional da leiloeira Christies feita em 2006. Um estrondoso aumento de 80% em dois anos, ademais em plena crise financeira internacional. É obra.
A última avaliação aterrou em Outubro de 2022, momento em que se espera a definição da titularidade da Coleção Berardo e o encerramento no final do ano do museu dito da Coleção Berardo no CCB. E o número veio tão grande a risco de perder qualquer credibilidade. Nada menos que 1,8 mil milhões de euros.
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