Com o título "Duas ou três notas sobre um declínio: os museus nacionais", Joaquim Oliveira Caetano diretor do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) desde 2019, lança esta terça feira um forte alerta para o que considera ter sido o falhanço do projeto museológico nacional no pós-25 de abril.
A denúncia é feita num artigo de opinião no jornal "Público" e termina com uma provocação ao atual ministro da Cultura, referindo a transição deste responsável da liderança da comissão das comemorações dos 50 anos da revolução para a tutela do sector cultural. "Que o atual ministro da cultura tenha sido o antigo comissário para as comemorações dos 50 anos da democracia em Portugal parece-me de referir. Resta saber se com esperança se com ironia", questiona o responsável na conclusão do texto.
"Quando olhamos para as enormes melhorias que a democracia portuguesa conseguiu no sector cultural, em áreas como as bibliotecas e arquivos, a música, os teatros, ou nos equipamentos e na oferta cultural associativa ou autárquica, é difícil não ver nos museus nacionais uma área de enorme falhanço", pode ler-se no texto.
O foco das críticas de Joaquim Oliveira Caetano é sobretudo a incapacidade de se assegurar a substituição geracional de funcionários que conhecem em profundidade as coleções das principais instituições museológicas do país. "A interrupção geracional dentro das instituições é um dos seus maiores problemas e talvez aquele que mais hipoteca o seu futuro", afirma o diretor do MNAA.
"Sem esse saber, facilmente os museus se reduzem a locais de lazer, mantidos em melhores ou piores condições, mas que tendem a tornar-se equipamentos culturais despidos de personalidade, cuja programação constante é feita fora do seu âmbito: “espaços” onde acontecem “eventos” criados fora das instituições, mesmo que pareçam dela resultar. Há muito que uma parte importante da programação resulta desta criação externa, mascarando a incapacidade produtiva dos museus, numa continuidade que os acaba por tornar cada vez mais frágeis", acrescenta o responsável.
É de sublinhar ainda que, por inerência do cargo que ocupa e devido à relevância que é dada ao MNAA no contexto dos museus nacionais, Joaquim Oliveira Caetano é também subdiretor-geral do Património Cultural. Embora assine o artigo de opinião apenas como diretor do MNAA, não é de relevar esta condição institucional.
Joaquim Oliveira Caetano nasceu em Beja em 1962. É licenciado em História, variante de História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e antes de assumir a liderança do MNAA era conservador da coleção de pintura deste museu.
Está no MNAA desde 1991, entre 1997 e 1999 trabalhou na Biblioteca Nacional e, de 2000 a 2010, foi diretor do Museu de Évora, hoje Museu Nacional de Frei Manuel do Cenáculo, tendo regressado ao Museu Nacional de Arte Antiga em 2010. Atualmente está envolvido com o maior projeto de restauro dos Painéis de S. Vicente, considerada uma das obras magnas do museu que dirige.
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