Cultura

Por trás de Carmen Mola, a “Elena Ferrante espanhola”, estão afinal três homens

Por trás de Carmen Mola, a “Elena Ferrante espanhola”, estão afinal três homens
georgeclerk/getty images

Carmen Mola, que se julgava ser o pseudónimo de escritora nascida em Madrid, autora de uma série de livros policiais que se transformaram num sucesso de vendas nos últimos anos, são, afinal, três homens. Garantem que não quiseram esconder-se “atrás de uma mulher, mas sim de um nome”, mas há quem não concorde e critique a escolha

Na hora da entrega do prémio, eis a grande revelação. Carmen Mola, que até aqui se julgava ser o pseudónimo de uma autora nascida em Madrid, cujos livros se transformaram num sucesso de vendas nos últimos anos e estão traduzidos em mais de oito países, Portugal incluído, não é, afinal, uma mulher. São três homens e têm idades entre os 40 e os 50 anos.

Foram eles que, sexta-feira, subiram a palco para receber o Prémio Planeta, atribuído pelo grupo editorial espanhol com o mesmo nome. Destina-se a romances inéditos escritos em castelhano e tem o valor de um milhão de euros.

Em entrevista ao “El País”, Agustín Martínez, Jorge Díaz e Antonio Mercero, que antes de assinarem como Carmen Mola já tinham publicado livros e trabalhavam como guionistas, negaram ter recorrido ao pseudónimo de uma mulher para vender mais livros. “Não nos escondemos atrás de uma mulher, mas sim de um nome”, afirmou Antonio Mercero. “Não sei se um pseudónimo de mulher iria vender mais livros. Não faço a menor ideia, mas tenho dúvidas disso”, acrescentou.

Foi com o romance “A Noiva Cigana” que Carmen Mola — conhecida como a “Elena Ferrante espanhola”, pelo mistério em torno da verdadeira autoria dos livros — inaugurou, em 2018, a famosa série que tem como protagonista a inspetora Elena Blanco, descrita como uma “mulher peculiar e solitária, que gosta de grappa, karaoke, carros clássicos e sexo em SUVs”. O livro será adaptado em breve para uma série de televisão, tendo sido editado em português este ano.

De Carmen Mola pouco se sabia até ao momento. Em entrevistas concedidas e no seu site, apresentava-se como uma professora na casa dos 40 anos. A escolha de um pseudónimo para assinar os livros devia-se à necessidade de proteger a sua vida privada, que nada teria que ver com a literatura, conforme se lê numa entrevista ao jornal espanhol “ABC”, publicada há três anos.

Se a revelação da verdadeira autoria dos livros deixou algumas pessoas espantadas, noutras gerou reações mais fortes. No Twitter, Beatriz Gimeno, feminista, escritora e ativista, e antiga diretora de um organismo nacional que promove a igualdade de género e a participação das mulheres na vida política, cultural, económica e social, acusou os três escritores de quererem apenas atrair publicidade para os seus livros. “Além de usarem um pseudónimo de mulher, estes três tipos passaram anos a dar entrevistas. Não é apenas o nome, é o perfil falso que usaram para se relacionar com leitores e jornalistas”, afirmou, considerando toda a situação uma fraude.

No ano passado, o instituto de que era diretora, o Instituto de la Mujer, recomendou um dos livros de Carmen Mola juntamente com o de outras escritoras, como Margaret Atwood, considerando tratar-se de obras “que ajudam a compreender a realidade e as experiências das mulheres em diferentes períodos da história, contribuindo para uma maior consciencialização sobre os seus direitos e liberdades”.

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