José Mário Branco recebeu um telefonema diferente vindo de Lisboa. Era da Sassetti, uma das duas editoras às quais José Afonso tinha acabado de mostrar bobinas que trouxera consigo depois de uma viagem à capital francesa, onde Branco estava exilado desde 1963. Em Paris, José Mário Branco tinha começado a fazer canções e tocava frequentemente, sobretudo para plateias de emigrantes. Tinha já editado em 1969 dois primeiros discos: o EP “Seis Cantigas de Amigo” e o single ‘Ronda do Soldadinho’. Chegara a hora de dar mais um passo. “Não quer ir para estúdio gravar um álbum?”, pergunta-lhe, ao telefone, António Marques, da Sassetti, entre finais de 1970 e inícios de 71. “Vá para estúdio e grave as canções. Faça uma escolha, faça um LP”, sugere o editor. “Mas como?”, riposta José Mário Branco. Ao que António Marques responde que o disco é para editar em Portugal, sublinhando que o músico “não pode cá vir, senão é preso”, mas que pode gravar em Paris “à sua vontade, no estúdio que você quiser com os músicos que você quiser”. “É um luxo para qualquer criador”, afirmou José Mário Branco durante a última entrevista que lhe fiz, no final do verão de 2018. “Ai minha mãe, o que faço agora? Era demais... Parecia demais”, recordou, evocando o momento em que foi posta em marcha a criação do seu primeiro álbum. Chamar-se-ia “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades” e foi o primeiro de três discos que, nesse mesmo ano, levariam mais outros dois músicos portugueses ao mesmo estúdio recentemente criado num palacete perto de Paris para, cada qual, gravar álbuns que seriam igualmente marcantes na história da música portuguesa: Sérgio Godinho com “Os Sobreviventes” e José Afonso com “Cantigas do Maio”, sendo José Mário Branco uma presença comum a todos eles.
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