Mais do que um volume de poemas reunidos, “Morada Nómada” (com organização de Zetho Cunha Gonçalves) é um livro autónomo, com uma sequenciação de textos a que Luís Carlos Patraquim chama um continuum: “Versos que suscitam outros livros, seus títulos, inclusive, poetenciações que se desdobram, seja em beat, em ‘modo elegíaco’ ou assim.” Temos então, embora não necessariamente por esta ordem, os livros iniciais “Monção” (1980) e “A Inadiável Viagem” (1985); as colectâneas com edição portuguesa como “Vinte e Tal Novas Formulações e Uma Elegia Carnívora” (1992), “Lidemburgo Blues” (1997), “O Osso Côncavo” (volume antológico de 2005) ou “Pneuma” (2008); os últimos títulos que, azar nosso, têm aparecido na moçambicana Alcance e em edições brasileiras, dos quais se destaca o assombroso “O Deus Restante” (2017); e, a fechar, umas dezenas de inéditos.
Se a ordenação “associativa” não favorece uma leitura estritamente cronológica, tem a vantagem de acentuar continuidades e reincidências de uma poesia que, ao longo de 40 anos, tem sido lírica, obscuramente confessional, elegíaca, órfica. Tanto nos livros mais antigos como nos recentes, Patraquim assume-se herdeiro de uma tradição lírica africana (em língua portuguesa) que apresenta características como o poema breve de verso curto e a ode mais expansiva, as referências histórico-geográficas, um ‘nós’ identitário que pode ser um ‘nós’ de amigos como de povos, o poema político, a jubilação erótico-amorosa (“Atento ao Amor, sou o que a atenção/ consente de si, afugentando o nada:/ esta lâmpada em mergulho de algas/ subindo”).
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