Cultura

Afinal ainda há futebol na televisão

“The English Game”, uma série disponível na Netflix
“The English Game”, uma série disponível na Netflix

“The English Game” resume em seis episódios a origem do futebol no Reino Unido. Há boas e más notícias

Afinal ainda há futebol na televisão

Mariana Cabral

Jornalista

Há boas notícias e há más notícias. Vamos começar pelas boas, já que de más estamos todos um bocado fartos: mesmo com os campeonatos parados, afinal ainda há futebol para ver, cortesia da Netflix. O serviço de streaming lançou a minissérie “The English Game”, que resume em seis episódios a origem do futebol em Inglaterra, ou melhor, no Reino Unido, já que há pelo meio um empurrãozinho de um escocês chamado Fergus Suter, que se tornou o primeiro futebolista profissional da história.

É que, no século XIX, o jogo era puramente amador e dominado pelas classes altas, que impunham as regras e organizavam a Taça nacional, frequentemente conquistada pelos Old Etonians, que frequentaram a famosa Universidade de Eton, como o capitão Arthur Kinnaird (que viria a ser presidente da Federação Inglesa), interpretado por Edward Holcroft. Contudo, em 1879 e com a crescente democratização do jogo, começaram a ganhar preponderância as equipas compostas por operários, que já incluíam jogadores remunerados — como Suter, interpretado por Kevin Guthrie —, ainda que tal fosse proibido pelas regras (tornar-se-ia legal em 1885).

Baseada em factos reais, a história centra-se essencialmente na dicotomia entre essas duas realidades, marcadas pela luta social. Do ponto de vista futebolístico, conseguimos ver o jogo de antigamente (curiosamente, as cenas em campo foram filmadas com as mesmas câmaras com que se filma atualmente a Premier League), com os Old Etonians a respeitarem a forma de jogar do râguebi, agrupando os jogadores em bando e preferindo a força física como meio de ‘varrer’ os adversários — basta ver que o sistema tático então utilizado era o 1-1-8. Já as equipas operárias, com a influência de Suter (na Escócia, estava-se numa fase mais moderna), baseavam-se na técnica, procurando ultrapassar os adversários com passes e uma maior racionalização do espaço de jogo.

A história acaba por se desviar da realidade, mas perdoa-se a liberdade criativa a Julian Fellowes, que criou a excelente “Downton Abbey”. O que já não se perdoa — aqui vêm então as más notícias — é a falta de ligação emocional, entre as diferentes personagens e entre nós e elas. As frases feitas para parecerem grandiosas soam a falso e nada parece profundo o suficiente para que nos importemos realmente com o que acontece. Contudo, dada a atual quarentena de futebol, “The English Game” não deixa de ser, ainda assim, um bom paliativo para os adeptos.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mmcabral@expresso.impresa.pt

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