Enquadra-se perfeitamente no cenário, na moldura dos frisos e das luzes, da orquestra que, num ensaio do “Messias” de Händel, ocupava o palco. Há décadas que não é uma visitante nesta casa, onde já fez papéis principais como Tosca, Abigaille e Lady Macbeth, e onde teria gostado de fazer Elektra, personagem ainda nunca abordada, que adiou até a voz estar pronta para a enfrentar. Elisabete Matos, 52 anos, 33 de cantora lírica, a mais internacional das sopranos portuguesas, monstro do palco, caminha pelos corredores do São Carlos como peixe na água, cumprimentando quem passa, posando para as fotografias com o traquejo de quem o faz há muito, muito tempo, disponível, paciente, complacente. Desta vez, a sua presença é mais prolongada do que o mês que demora a preparação de uma ópera, não fosse, desde 1 de outubro, diretora artística do teatro lírico, a primeira mulher de sempre a assumir a função.
É a sua nova vida, que se vem somar à anterior. Que pretende encarnar sem deixar de ser o que sempre foi. Sabe que chega a um teatro ao qual “não foi dado o tratamento devido”, que pode ser mais bem aproveitado. Que pode abandonar a vaidade, adaptar, reciclar. Quando os problemas surgirem, e por mais intricados que eles sejam, a solução virá “de artista para artista”. Não se sente uma outsider, antes pelo contrário, e ter de abrandar a carreira é o menor dos desafios. Quer dar atenção aos cantores portugueses e um mês depois de ter chegado já fez audições públicas, para dar a quem não é conhecido a oportunidade de competir por um lugar.
Este é um artigo exclusivo. Se é assinante clique AQUI para continuar a ler. Para aceder a todos os conteúdos exclusivos do site do Expresso também pode usar o código que está na capa da revista E do Expresso.
Caso ainda não seja assinante, veja aqui as opções e os preços. Assim terá acesso a todos os nossos artigos.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: LLeiderfarb@expresso.impresa.pt