Séries do ano (artigo 5): “The Handmaid’s Tale” é o futuro distópico do qual temos de fugir

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Totalitária, teocrática e policial. A República de Gilead é muito diferente da sociedade em que hoje vivemos e pouco tem a ver com os Estados Unidos da América que existiam no seu lugar. Representa a visão de um grupo de fanáticos religiosos que usa passagens do Antigo Testamento para justificar os seus atos mais aterradores. Este grupo aterrador tomou o poder depois de diversas mudanças no seio da vida contemporânea norte-americana e quando se percebeu o que estava em causa já era demasiado tarde.
Criada a partir do romance de Margaret Atwood, cuja edição portuguesa mais recente tem o título “A História de Uma Serva” (Bertrand), a série de Bruce Miller apresenta-nos a uma distopia futurística à qual quase todos os que a vivem gostariam de escapar. Em Gilead, as mulheres perderam todos os seus direitos e passaram a depender dos homens, mas este não é um pesadelo em si mesmo. Através de June Osborne (Elisabeth Moss), que perde até a sua identidade e recebe o nome de Offred — ou Defred na versão portuguesa, referindo-se à posse do Comandante Fred Waterford (Joseph Fiennes).
As mulheres de encarnado que vemos acima são simples veículos de reprodução, cuja única missão é darem um filho ao seu Comandante. Vivem uma escravatura sagrada e todos os meses, nos dias férteis, têm de participar na Cerimónia. É este o nome dado ao coito em Gilead e vemos como tudo se processa numa cena coreografada em que participam Defred, Waterford e a mulher deste, Serena (Yvonne Strahovski).
A série foi a grande vencedora dos Emmys deste ano, com a produção da Hulu a vencer em oito categorias. A criação de Miller ganhou os galardões de Melhor Série, Melhor Atriz (para Elisabeth Moss), Melhor Atriz Secundária (Ann Dowd), Melhor Atriz Convidada (Alexis Bledel), Melhor Realização (para Reed Morano, pelo episódio inagural), Melhor Argumento (Bruce Miller), Melhor Direção de Arte (Julie Berghoff, Evan Webber e Sophie Neudorfer) e Melhor Fotografia (Colin Watkinson), mas a série pode renovar as suas vitórias no próximo mês. As nomeações para os Globos de Ouro norte-americanos — nas categorias de Melhor Série Dramática, Melhor Atriz Principal (para Elisabeth Moss) e Melhor Atriz Secundária (para Ann Dowd) — indicam que o título “The Handmaid’s Tale” pode voltar a ser ouvido já a 7 de janeiro, quando Seth Meyers conduzir a gala de cinema e televisão.
Em Portugal, a transmissão da primeira temporada ainda está numa fase inicial, mas já é possível entender que está em causa nesta aposta do serviço de streaming NOS Play. Os episódios “The Handmaid’s Tale” estão a ser disponibilizados ao ritmo de um episódio por semana e neste momento ainda só é possível ver o dois episódios inaugurais (“Offred” e “Birth Day”) que ficaram disponíveis esta segunda-feira.
Apesar da estreia tardia no nosso país, o sucesso internacional da série levou a que esta fosse fosse renovada para uma segunda temporada, com estreia marcada já para o próximo mês de abril. A produção já arrancou e parte do elenco já é conhecido, embora se mantenha em segredo qual o rumo que a narrativa vai tomar. Certo é que a imaginação de Margaret Atwood para criar esta sociedade distópica já não chega e que a equipa de Bruce Miller terá de ir além do romance editado pela Bertrand Editora nos próximos capítulos.
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