Cultura

Pirataria online de filmes e séries perde gás, mas sem fim à vista

Pirataria online de filmes e séries perde gás, mas sem fim à vista
d.r.

Por entre perdas e lucros, a indústria global do audiovisual é um ver se te avias de crescimento, mesmo no universo da distribuição online, onde a pirataria faz perder (e estima-se que continue a fazê-lo) parte de leão das receitas

Texto Luís Proença

O mais recente relatório da Digital TV Research, elaborado a partir de dados fornecidos pelas empresas de distribuição de cinema, séries e programas televisivos através da internet, aponta um futuro híbrido no que toca à coabitação entre os lucros legítimos e o que fica por lucrar, fruto das descargas ilegais e visionamentos paralelos dos conteúdos disponíveis em ‘streaming’, sem que haja lugar a qualquer pagamento ou subscrição (ver quadro).

É bom de ver, porém, que as projeções a quatro anos indicam que o fosso tende a alargar-se, com vantagem para o total das receitas legítimas face às perdas para as pirata. Poder-se-á concluir que a multiplicação dos serviços de ‘streaming’ em curso consequentemente associada ao incremento da produção dos conteúdos que os alimentam conjugados são factores que poderão vir a dar uma sacudidela sobre a realidade instalada de “ver de graça”.

Simon Murray, analista da Digital TV Research, diz perentoriamente que “a pirataria nunca será erradicada”. No entanto, assinala que “as taxas de crescimento vão desacelerar devido aos ganhos de eficiência das ações governamentais e conforme os benefícios pela escolha da legalidade se forem tornando mais evidentes”.

Seja como for e até se chegar lá, as previsões mostram um longo caminho a percorrer, entre perdas e danos. Atentando em particular aos géneros cimeiros da ficção e entretenimento audiovisuais distribuídos online - cinema, séries e programas televisivos -, e excluindo desporto e televisão linear por subscrição, verifica-se que num período de meia dúzia de anos (entre 2010 e 2016), as perdas de receitas treparam vigorosamente dos 5,76 mil milhões de euros para mais de 27,3 mil milhões – quase 80%, portanto.

Aqui chegados, e de acordo com as estimativas estampadas no relatório, a indústria vai chegar a 2022 a perder 44,7 mil milhões de euros para a pirataria. No outro prato da balança, o das receitas, o crescimento efetivo entre 2010 e 2016 e a projeção até 2022 é proporcionalmente maior. Se em 2010, os lucros e as perdas estavam a par, em 2016 os lucros fixaram-se em cerca de 34,4 mil milhões (versus 27,3 de perdas) e em 2022 estarão próximos dos 71,3 mil milhões, face a uma previsão de perdas – recordo, de 44,7.

ANTIPIRATARIA COM BONS RESULTADOS NA CHINA

Por ordem de grandeza, os Estados Unidos surgem no primeiro lugar de perdas. Tanto na contabilização já feita até 2016 como na previsão para 2022. A China aparece na segunda posição, apesar das ações antipirataria das autoridades chinesas já revelarem resultados. Em 2016, as perdas levavam a melhor sobre os lucros legítimos, com mil milhões de défice; em 2022 os lucros estarão dois mil milhões acima.

Por grandes regiões, o relatório prevê que no ano que vem a Ásia-Pacífico supere a América do Norte no capítulo das perdas, alcançando a fasquia dos 17,2 mil milhões de euros em perdas em 2022, ou seja, o dobro face a 2016. Por entre esta sopa de números, entre consolidados e projeções, Simon Murray destaca que “em 2013, os lucros legítimos gerados pelo visionamento de episódios de séries e filmes através das OTT TV (“Over The Top TV”), ultrapassou as perdas provocadas pela pirataria online e a diferença está a alargar-se”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate