Cultura

Trocar música por sapatos

Estas não são playlists como antigamente, gravadas em cassetes saudosas, mas vêm com o mesmo amor e devoção dessas playlists de outrora

Uma playlist de André de Atayde

- Já sabes como é que vais escolher as dez músicas?
- Ainda não, estou a pensar nisso... se calhar escolho umas 30 e carrego no shuffle, as primeiras dez que tocarem entram para a playlist
- Isso não é mal pensado
- Sim, dar liberdade de escolha ao algoritmo
- Fazes bem, as máquinas vão mandar nisto tudo qualquer dia, portanto...

Há uma certa dificuldade em escolher dez músicas para uma playlist quando se prefere números ímpares. Mais difícil se torna quando essa mesma pessoa, eu, sofre de esquizofrenia musical. Quer isto dizer que não há um estilo de música definido. E quer dizer também que o botão de "shuffle" é aquele que mais utilizo na minha playlist pessoal com 1104 músicas (até ao momento).

Há melhor sensação musical do que estar a ouvir uma morna de Cabo Verde e em seguida a "Fear Of The Dark", dos Iron Maiden? Não me parece.

Escolher dez músicas é o mesmo que ter de fazer uma escolha aos sapatos "por não haver há espaço para mais". Como não? Há sempre espaço para mais um par. Escolher dez músicas é o mesmo que ter de optar entre sericaia com ameixa de Elvas e tiramisú... quem é que consegue optar numa situação destas? "Quero os dois, por favor".

Agora que já tentei explicar a forma como cheguei a estas dez músicas, entre no carro, no autocarro, no comboio ou no barco, carregue no "shuffle" e pense que, por alguns instantes, não tem que escolher absolutamente nada. Só terá de o fazer se, quando chegar a casa, a sapateira estiver a abarrotar ou se estiver a pensar ir jantar fora.

#estamosjuntos, caro leitor!

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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