Irmãos, LPs e cassetes

Uma das vantagens de ter irmãos mais velhos e partilhar as divisões da casa foi ter acesso à música e aos discos acabados de sair quando ainda não tinha os quase mil escudos (o equivalente a 5 euros) que eram então necessários para comprar um LP, nem as faixas podiam ser todas ouvidas de graça na internet.

Nas estantes de um dos quartos acumulavam-se discos dos grupos de new wave que no início dos anos 80 dominavam a cena musical. E ainda hoje me lembro de muitas das capas, que acabavam por ser tão inesquecíveis quanto as próprias faixas. Como as caras maquilhadas dos Human League no álbum “Dare”, a roda que girava no álbum “III” dos Led Zeppelin, os elementos dos Madness em fila, a fotografia a preto e branco e as letras a vermelho no triplo álbum dos Clash (“Sandinista”), em avançado estado de decomposição de tanto ser pegado, os bem parecidos Sting, Andy Summers e Stewart Copeland, dos Police, a olharem para quem pegasse no LP.

No dia em que consegui ter os tais mil escudos não hesitei. Fui à discoteca Roma - já há muitos anos transformada em banco - e comprei o segundo álbum dos Housemartins. O disco ao vivo dos Queen no estádio de Wembley não conta, porque ainda tinha sido comprado a meias com um dos irmãos.

Do pai ficou o gosto pelo jazz, dos amigos ficaram as cassetes que se pedia então para gravar. Seria mais fácil colocar esta seleção numa BASF ou TDK de 60 minutos, trinta minutos de cada lado. Como me pediram apenas dez temas aqui fica uma seleção da seleção da seleção de algumas das bandas/cantores/músicos que, em diferentes alturas, mais ouvi, com passagens inevitáveis pela música portuguesa e brasileira. A diferença é que agora já não é preciso comprar os discos. Basta ligar-se à Internet e carregar no play.