O coordenador do plano de vacinação em Portugal admitiu esta terça-feira à noite em entrevista à TVI que só está prevista uma situação de imunidade de grupo no país no final do verão. “Um verão normal não teremos porque o processo de vacinação ainda não estará na fase em que há imunidade de grupo, de acordo com os especialistas”, começou por dizer o homem que lidera esta pasta desde a semana passada. “Só se atingirá essa fase, em princípio, praticamente no fim do verão. Sem imunidade de grupo no verão, não será normal, deve ser com todos os cuidados que tivemos até agora. Um bocadinho mais tranquilo, mas com todos os cuidados.”
Questionado sobre o Natal, Gouveia e Melo declara que há “a expectativa” de praticamente toda a população portuguesa estar vacinada nessa altura, “se as vacinas chegarem nas quantidades que estão encomendadas e não houver mais atrasos”.
E admite: “É difícil fazer promessas com base num elemento que não dominamos. É um ‘se’ muito grande. Se houver vacinas, temos capacidade e organização para as administrar e fazer o processo de vacinação todo. Se não houver, não há essa possibilidade, como é evidente”.
Sobre se o atraso das entregas das vacinas se poderá traduzir numa reorganização do plano de vacinação, Gouveia e Melo diz que esse é um cenário completamente posto de lado. “Para já, tudo vai manter-se. Não faria muito sentido mudar as prioridades porque não há vacinas", esclarece, garantindo que "as prioridades são prioridades em função do risco para os utentes”.
O novo coordenador do plano de vacinação garante que há três prioridades em cima da mesa: salvar vidas, garantir a resiliência do Estado, nomeadamente do Serviço Nacional de Saúde e outras áreas fundamentais, e finalmente a abertura da Economia. E insiste: “Não faz sentido mudar o plano porque há falta de vacinas. O plano é atrasado em relação ao que estava delineado".
Relativamente ao eventual recurso da vacina da AstraZeneca/Oxford em maiores de 65 anos, algo desaconselhado pela Direção-Geral da Saúde e Agência Europeia do Medicamento, Gouveia e Melo explica que não se trata de um problema com a vacina, mas sim que esta situação está ligada aos ensaios clínicos, que não tiveram uma representatividade dessa faixa etária suficiente. Países como França, Alemanha, Polónia, Áustria, Suécia, Itália e Países Baixos já haviam desaconselhado essa vacina para maiores de 65 anos.
Em declarações ao Expresso, o coordenador da Unidade de Farmacovigilância do Porto garante que não há qualquer risco associado ou identificado nos ensaios, trata-se de uma atitude cautelosa.
“A questão é simples: a razão pela qual as entidades internacionais sugeriram que esta vacina não fosse dada em idosos é pura e simplesmente porque não houve estudos em tempo suficiente com a inclusão desse grupo etário”, explicou na segunda-feira Jorge Junqueira Polónia. “Isto não quer dizer que a vacina não possa ser eficaz e até muito segura. Se não houver outra alternativa, obviamente que mesmo em indivíduos idosos esta vacina deverá ser utilizada. É uma questão de extrapolação dos dados daquilo que é a fase 3, os tais estudos antes da comercialização que avaliam a eficácia do medicamento num grupo normalmente restrito, a tal amostra.” Ou seja, “não me parece que seja um vazio de intervenção, há um vazio de informação. Não há demonstração de qualquer inconveniente, o que há é ausência de demonstração de benefício".
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