A ministra da Saúde revelou, esta quarta-feira, em entrevista ao podcast do PS intitulado “Política com Palavra”, que o Governo "prepara tudo para poder ter a distribuição da vacina [contra a covid-19] em janeiro.
Marta Temido esclareceu que os especialistas estão, neste momento, a trabalhar em quatro tópicos: a população alvo a vacinar e os grupos prioritários, a logística (transporte e armazenamento), o registo informático da administração da vacina e eventuais reações adversas, além da comunicação.
“Está uma 'task-force' a acompanhar o tema, com elementos dos serviços centrais, da DGS e peritos que devem fazer essa definição [da estratégia de vacinação]”, afirmou, sublinhando que estarão em análise os grupos alvo acima de determinada idade, as pessoas com comorbilidades, os profissionais de saúde e dos serviços essenciais (proteção civil e forças de segurança) e, eventualmente, os dos serviços sociais.
“A definição concreta e prioridades ainda terão de ser melhor especificadas”, completou.
Ministra optou por não se vacinar contra a gripe e apela a que isso seja feito com critério
Marta Temido realçou ainda a importância de apenas ser vacinado contra a gripe quem tem indicação para tal e disse que optou por não se vacinar, lembrando que a disponibilidade destas vacinas no mercado é limitada.
"É importante dizer que só deve vacinar-se quem tem critério... é importante que se perceba isto, para todas as vacinas. (...) Há indicações terapêuticas que devem ser seguidas. Eu, por exemplo, não me vacinei", afirmou Marta Temido,
Questionada sobre as vacinas contra a gripe adquiridas para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), a ministra explicou que todos os anos são fabricadas "em quantidade limitada", sublinhou que este ano foram compradas mais doses do que no ano passado e que as 2,5 milhões disponíveis (no SNS e nas farmácias) "seriam suficientes para a vacinação que habitualmente o país faz".
Sublinhando que o Governo adquiriu para o SNS "toda a quantidade que podia" de vacinas da gripe - mais de dois milhões de doses -, a ministra lembrou que as farmácias conseguiram comprar cerca de 500 mil e que, no total, isso seria necessário para quem tem indicação de fazer a vacina a receber.
"Este ano tivemos uma procura de pessoas que habitualmente não se vacina", disse a ministra, dando o exemplo de muitos profissionais de saúde.
Segundo os dados disponibilizados pela governante, foram administradas 1,4 milhões de doses da vacina da gripe e há ainda 400 mil em 'stock' para serem administradas.
"A última fatia — de 200 mil doses — chegará no final do mês", disse a ministra, lembrando que "não há mais vacinas disponíveis no mercado mundial".
Sobre a forma como a Direção-Geral da Saúde tem lidado com a pandemia e sobre se mantém a confiança na diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, a ministra respondeu: "Absolutamente".
Apenas 25% de casos identificados no Norte
A ministra da Saúde revelou igualmente que, na região Norte, a que tem maior pressão nos serviços de saúde por causa da covid-19, apenas se conseguiu identificar o contexto da transmissão em 25% dos casos.
Marta Temido, que falava numa entrevista ao 'podcast' do PS Politica com Palavra, explicou que os dados recolhidos nos inquéritos epidemiológicos apenas conseguiram conhecer o contexto do contágio (se foi em casa, nos transportes, ou em meio laboral, por exemplo) em 25% dos casos na região Norte.
Na semana passada, o primeiro-ministro tinha divulgado que os dados disponíveis indicavam que as infeções por covid-19 acontecem em 68% dois casos através de convívio familiar ou social, 12% em meio laboral, 8% em lares, 3% nas escolas, 3% no convívio social e 1% nos serviços de saúde.
"Nós só falamos do que conhecemos", disse a ministra da Saúde, lembrando que em casa "é onde todos baixamos a guarda".
"É o sítio onde foi mais fácil identificar a origem (...), sabemos o nome de todos. Difícil é dizer a origem da infeção que foi para casa", acrescentou.
Questionada sobre quantas unidades do setor social ou privado receberam até agora doentes com covid-19, a ministra disse que foi na região Norte onde "houve mais disponibilidade em trabalhar na resposta covid", designadamente da Fundação Fernando Pessoa, do Hospital da Trofa, da CUF porto e das unidades da Santa Casa da Misericórdia de Póvoa do Lanhoso e de Lousada.
Sublinhando que é na região Norte que há maior pressão nos serviços de saúde - mais de 60% novos casos estão na área da ARS Norte -, Marta Temido lembrou: "Os sistemas de saúde podem tratar, mas não fazem milagres e têm limites. Só os comportamentos de todos podem garantir que a vida, com alguma normalidade, retornará".