Em Espanha, um estudo que acompanhou 778 doentes veio acrescentar um novo medicamento à lista de possíveis respostas à Covid-19. Trata-se do tocilizumab, um fármaco usado para o tratamento da artrite reumatóide, e que, no contexto da infeção pelo novo coronavírus, mostrou reduzir o risco de morte e a necessidade de ventilação mecânica. De acordo com a pesquisa, pacientes que tomaram o medicamento - administrado com alguma frequência durante a pandemia em hospitais - têm três vezes menos probabilidade de morrer.
“Começamos a observar que o tocilizumab se revelava eficaz a combater a inflamação pulmonar, causa de morte na Covid-19”, explicou ao “El País” Jesús Rodríguez Baño, chefe do serviço de Doenças Infecciosas do Hospital Virgen de Macarena de Sevilha e coordenador do estudo. O especialista defende agora a realização de ensaios clínicos que permitam conclusões mais rigorosas, já que a pesquisa, como sublinhou, é observacional: apenas recolhe informação para análise.
Do que foi possível concluir, o tocilizumab mostrou-se eficaz para os doentes internados com hiperinflamação pulmonar, problema que afeta entre 40% e 60% dos internados por Covid-19.
Os especialistas envolvidos no estudo frisam que o medicamento está indicado para um perfil específico de paciente e é preciso considerar efeitos adversos, mas defendem que mesmo para os doentes que não possam ser incluídos nos ensaios clínicos, o fármaco deve ser considerado uma opção de tratamento.
Outro estudo recente envolvendo o mesmo medicamento, realizado nos Estados Unidos, chegou a resultados semelhantes, mas para deceção dos médicos que estão neste momento nas unidades de cuidados intensivos, a Roche, laboratório que produz o tocilizumab, desenvolveu um ensaio clínico e afirmou num comunicado que o medicamento não é eficaz contra o coronavírus.
Detalhes sobre este estudo não foram publicados, pelo que, quem está no terreno, quer saber mais sobre o tipo de doentes a que foi administrado.
“Acreditamos que o resultado foi negativo porque o medicamento não foi testado em pacientes com inflamação”, disse também ao “El País” Rodríguez Baño.
No caso do estudo espanhol, os 778 pacientes infetados e escolhidos para observação apresentavam, entre outros sintomas, um quadro febril que se manteve ao longo do tempo ou necessitaram de mais oxigenoterapia. O trabalho foi publicado na revista Clinical Microbiology and Infection e financiado pelo Instituto de Saúde Carlos III.
Até agora, apenas a dexametasona - um corticoesteroide utilizado em inflamações relacionadas com a artrite reumatoide e a asma - revelou ser eficaz no tratamento de doentes graves, infetados pelo novo coronavírus.
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