“A ideia de distanciamento social é uma forma de reforçar que há uma mudança de paradigma em termos de interação entre os indivíduos”, analisa ao Expresso o sociólogo Nuno Dias, do DINÂMIA’CET-IUL – Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território. “A noção de novo normal, que rapidamente se disseminou, equivale a uma nova norma e o processo de mudança de comportamentos nem é homogéneo nem acontece sem resistência”, acrescenta. Numa fase de “maior incerteza relativamente às dinâmicas de transmissão do vírus”, sublinha, “o novo normal implicaria uma reaprendizagem do que é expectável de interação social”.
O sociólogo não tem uma resposta definitiva quanto à utilização do ‘social’ em vez do ‘físico’ para caracterizar o distanciamento. “Não tenho a certeza de que seja um equívoco. No início, houve uma necessidade política de quebrar um impulso natural de sociabilidade, o impulso de nos relacionarmos uns com os outros.” Daí que em certos países, incluindo Portugal, e nalgumas localidades e circunstâncias tenha sido tão fácil mandar as pessoas para casa num primeiro momento. “O medo é uma ferramenta central para criar esse bloqueio interior, a internalização de uma nova regra comportamental.”
Mas a insistência na retórica do distanciamento social não pode ter efeitos nefastos na sociedade? “Sim, pode ser danosa. Não consigo determinar a necessidade desse reforço linguístico. Não sei se era um imperativo ou se era, de facto, necessária a ideia de distanciamento social enquanto princípio organizador das relações entre indivíduos, em vez de um descritivo mais neutro como o distanciamento físico.” Nuno Dias acaba por apoiar mais a tese da “opção política que cumpre uma função”. E, mais uma vez, com o medo em fundo. Quanto aos efeitos propriamente ditos dessa opção, estes “têm vindo a revelar-se progressivamente” – isto é, podem não ser totalmente percetíveis no imediato.
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