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Coronavírus

Covid. Os que têm mais noção do perigo e os que não têm muita: dentro da freguesia de Lisboa que continua em estado de calamidade

Covid. Os que têm mais noção do perigo e os que não têm muita: dentro da freguesia de Lisboa que continua em estado de calamidade
José Fernandes

Há 19 freguesias da Área Metropolitana de Lisboa que vão continuar em estado de calamidade porque a pandemia ainda não está controlada. Dessas 19 só uma fica no concelho de Lisboa. O que se passa por lá?

Mauro Wah é a autoridade maior no bairro do PER11. O responsável da associação de moradores pisa a calçada e as crianças ali a brincar perdem o sorriso e param a conversa. “Camaradas, onde está a vossa máscara? Estão muito juntos, afastem-se lá…” diz, sem conseguir evitar o sorriso. As crianças obedecem e dispersam, ora em passo de corrida, ora em cima das bicicletas. Neste bairro da freguesia de Santa Clara, na Alta de Lisboa, a importância da proteção contra a covid-19 é sabida mas os mais velhos têm de ir lembrando que as máscaras são para usar - e a associação dá máscaras a quem não tiver. Basta pedir. “É uma questão de hábito e temos de ir reclamando, insistindo”, diz Mauro ao Expresso, na sede do PER11.

A entrevista é interrompida por Yuri, 12 anos, que olha para o desinfetante à entrada da porta e antes de usá-lo provoca o mais velho: “E a tua máscara, onde está?”. Mauro ri-se com a inversão de papéis e responde que está afastado de toda a gente. “Mas isto é positivo. Deixares que eles também te deem na cabeça quando não cumpres é um bom passo para toda a gente cumprir.”

A freguesia de Santa Clara é a única do concelho de Lisboa que viu o estado de calamidade prolongado, de um total de 19 em toda a Área Metropolitana de Lisboa. O Expresso entrou em contacto com a delegação local da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo mas os responsáveis ainda não sabiam esta informação avançada pelo Governo - por isso recusaram-se a prestar quaisquer esclarecimentos.

Naquela parte de Santa Clara, antiga freguesia da Charneca, vivem moradores de etnia africana, branca e cigana. Mauro diz que toda a gente tem remado para o mesmo lado e não têm surgido casos de infeção. “Mas aqui temos o luxo do espaço.” Os prédios não estão tão juntos e deixam o sol da tarde passar entre eles, os passeios são largos que chegue para os jovens brincarem e os adultos passarem e no ringue de futebol joga-se com as máscaras ao pescoço.

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