Um homem mascarado de Morte passeou-se na semana passada nas praias da Florida, entretanto reabertas. Sob 32 graus centígrados, o advogado Daniel Uhlfelder tinha uma mensagem para os banhistas. “A Ceifeira representa a Morte. Este é um vírus mortal. É uma pandemia global”, disse, num direto televisivo, a partir de uma das praias lotadas.
“Estou preocupado que a pandemia esteja a ficar fora de controlo e a matar muitas pessoas. Não conseguiria dormir [se não fizesse nada]”, justificou, citado esta quinta-feira pelo jornal “The Guardian”. A ação pelo encerramento das praias nem sequer está na sua natureza: enquanto advogado, bateu-se no passado pela manutenção das praias acessíveis ao público.
No entanto, com o número de mortes associadas à covid-19 a rondar as 75 mil nos EUA, Uhlfelder sentiu que deveria fazer algo. Foi então que teve a ideia de se vestir com uma capa negra e, munido de uma foice, passear-se pelas praias da Florida. A mulher aconselhou-o a não o fazer e várias pessoas online troçaram da ideia e desejaram que ele apanhasse uma insolação – entre outros ‘mimos’, alguns deles bastante insultuosos.
As críticas violentas acabaram por lhe dar uma outra ideia: “Pensei que talvez eles tivessem razão”, disse. E assim resolveu trocar o fato, comprado num supermercado da Walmart por 20 dólares, por uma versão melhorada que lhe foi sugerida por uma amiga: um fato de linho, que usou por cima de um fato de banho, e uns chinelos de praia.
“Temos praias lindas. Eu adoro ir à praia. Não temos mais nada”
Mesmo assim, Uhlfelder não escapou a comentários injuriosos de banhistas, mas não se sentiu incomodado, até porque, como fez questão de sublinhar, ele não está particularmente contra os banhistas. O advogado afirma compreender as pessoas que desejam a reabertura da economia e o regresso à vida normal. O seu maior problema é com o Presidente dos EUA, Donald Trump, que acusa de não levar a sério as medidas de confinamento.
“Temos praias lindas. Eu adoro ir à praia. E é por isso que as pessoas vêm para a Florida. Não temos mais nada”, declarou, em tom jocoso, antes de apontar a mira à administração Trump. “Somos o país mais rico do planeta. Por que razão não podemos cuidar das pessoas durante dois, três, quatro meses, em vez de as colocarmos nestas situações?”, questiona-se, voltando a atacar as autoridades: “Eles sentem-se perfeitamente confortáveis a condenar pessoas à fome e à morte.”
Uhlfelder mostra-se satisfeito com o alcance da sua ação, que o levou aos programas “Saturday Night Live” e “Daily Show” e à CNN, e angariou milhares de dólares, que doará aos candidatos democratas ao Congresso americano. Além disso, o advogado destacou-se de outras formas de protesto em sentido inverso: as vozes mais audíveis contra o confinamento são de manifestantes com armas em punho, lembra.
“Se as pessoas não concordam com aquilo que o governo está a fazer, têm de fazer alguma coisa em relação a isso. Houve pessoas que morreram a lutar por esse direito. Quero que outros o façam. É cansativo ser o único a fazê-lo”, remata o advogado-ceifeira.
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