A pandemia provocada pelo novo coronavírus recuperou, nas redes sociais, o vídeo de uma conferência de Bill Gates, em março de 2015, no qual, de forma quase profética, o fundador da Microsoft previu o surto de “um vírus altamente contagioso” e que não estávamos preparados para enfrentar.
Se o milionário estiver igualmente certeiro na entrevista publicada esta terça-feira pelo jornal francês “Le Figaro”, “não vamos voltar à normalidade antes de um a dois anos”.
Em 2015, no mês seguinte à conferência, Gates assinou um artigo na publicação “The New England Journal of Medicine” sobre as medidas necessárias para reagir ao vírus. “A ideia era estarmos prontos quando chegasse a hora”, diz ao jornal francês. “Aumentar rapidamente a nossa capacidade de fazer testes, envolver a indústria para que seja capaz de produzir muito depressa uma terapia e depois as vacinas. Mas muito pouco foi feito.”
Gates frisa que a retoma das vidas suspensas pelo confinamento — que na sua opinião “salvou milhões de vidas” — só acontecerá após a descoberta de uma vacina. O filantropo defende que, numa primeira fase pós-confinamento, deve ser adotado “um sistema de testes e rastreio”, com que possamos “rapidamente identificar os focos de infeção e contê-los”.
Trabalhar com a China e não ostracizá-la
Gates diz ainda que a resposta à pandemia tem de ser mundial, não só por uma questão de humanidade mas também em nome da economia global. Distancia-se dos detratores da China, que a acusam de ter escondido a verdade. “É muito difícil ser o país onde a epidemia se declarou. A partir de certa altura, a China usou métodos muito duros para conter o vírus”, lembra. “Chegará a hora de fazermos balanços, mas apontar culpados agora não é uma abordagem construtiva. A nossa economia está parada, o mundo sofre, a prioridade deve ser a colaboração.”
Bill Gates e a mulher, Melinda, dirigem uma fundação em nome próprio que se orgulha de, nos últimos 20 anos, ter contribuído para baixar o número de mortes provocadas por doenças infecciosas em todo o mundo de dez para cinco milhões por ano.
A covid-19 veio abrir outra frente no trabalho da fundação. “Este vírus provocou uma devastação imensa, a uma escala inacreditável”, diz Gates. “Mesmo eu, que previ uma pandemia deste tipo, estou estupefacto com a amplitude dos prejuízos.”
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