Coronavírus

“Não há margem de manobra” para passos em falso: especialistas preocupados com levantamento do estado de emergência

“Não há margem de manobra” para passos em falso: especialistas preocupados com levantamento do estado de emergência
Rui Duarte Silva

Depois de a Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública defender que o estado de emergência não deve ser levantado no início de maio se o cenário epidemiológico da covid-19 for idêntico ao atual, também os especialistas do Instituto Ricardo Jorge levantam grandes reservas

“Não há margem de manobra” para passos em falso: especialistas preocupados com levantamento do estado de emergência

Mafalda Ganhão

Jornalista

Com o Governo a admitir o levantamento das restrições, defendendo que este aconteça de forma gradual e deixando para a próxima semana uma decisão sobre os procedimentos a adotar, há vários especialistas preocupados a alertarem para o risco que representa um regresso à normalidade demasiado cedo. Depois de a Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP) defender que o estado de emergência não deve ser levantado no início de maio se o cenário epidemiológico da covid-19 for idêntico ao atual, também os especialistas do Instituto Ricardo Jorge (INSA) discordam do levantamento imediato das restrições implementadas.

Segundo o “Observador”, o principal receio destes peritos é que esse levantamento - a acontecer - possa fazer subir o valor do “R” (o número médio de pessoas infetadas por cada doente). Para os técnicos do INSA, a margem de manobra não permite precipitações “e não há estudos suficientes que permitam antecipar o impacto do fim das restrições nesse valor”, escreve o jornal.

Já o presidente da ANMSP , Ricardo Mexia, defendeu quinta-feira esta ainda não é a altura certa para o levantamento do estado de emergência porque "o cenário epidemiológico é muito semelhante" ao que existia quando este foi renovado. "Se se mantiver esta situação, eu acredito que daqui a uma semana, quando for a altura de reavaliar, não vai ser o momento de levantar as restrições na medida em que não tivemos um verdadeiro decréscimo do número de casos", sublinhou.

Para o médico de saúde pública, a estabilização do número de casos não quer dizer que os números “estejam a baixar de forma clara". Ricardo Mexia defendeu que é necessário "avaliar de forma muito rigorosa qual é a situação epidemiológica para tomar uma decisão fundamentada”, justificando: “podemos depois vir a pagar o preço, como já aconteceu em alguns países”.

A necessidade de o valor “R” ficar abaixo de 0,7 para que Portugal possa começar a aliviar as medidas de restrição tinha sido sublinhada numa reunião entre os principais especialistas e os responsáveis políticos na semana passada.

Portugal cumpre o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado a 19 de março, e o decreto presidencial que prolongou a medida até 2 de maio prevê a possibilidade de uma "abertura gradual, faseada ou alternada de serviços, empresas ou estabelecimentos comerciais".

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: MGanhao@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate