Coronavírus

Covid-19. Empresário português acusado de venda enganosa de máscaras. Ninguém pode esperar que durem para sempre, defende-se

Covid-19. Empresário português acusado de venda enganosa de máscaras. Ninguém pode esperar que durem para sempre, defende-se
Stephanie Keith/Getty Images

Mais de mil milhões de e-mails foram enviados desde fevereiro para promover, nos Estados Unidos, as SafeMask. Vulgares máscaras descartáveis foram vendidas como produto 'premium', reutilizável e certificado, tendo os clientes pago dez vezes mais do que o valor real do produto

Covid-19. Empresário português acusado de venda enganosa de máscaras. Ninguém pode esperar que durem para sempre, defende-se

Mafalda Ganhão

Jornalista

Anunciadas como "consideravelmente mais avançadas" do que as máscaras cirúrgicas comuns e vendidas com a promessa de uma garantia de três anos, as SafeMask chegaram ao mercado norte-americano no ‘timing’ perfeito, apoiadas numa publicidade agressiva que envolveu o envio de mais de mil milhões de mensagens por correio eletrónico, promovendo um produto muito diferente daquele que chegou a casa dos muitos clientes que se deixaram convencer.

Em vez da máscara reproduzida na foto que ilustrava o email e, ao que o texto fazia crer, reutilizável, os compradores que se queixam de ter sido enganados, dizem ter recebido vulgares máscaras descartáveis, habitualmente vendidas por 10 vezes menos do que o preço que pagaram pelas SafeMask: não menos que 39,99 dólares o par (quase 37 euros). Muitos outros clientes dizem não ter sequer chegado a receber a encomenda.

Uma fraude em tempo de pandemia, que tem na origem uma empresa com sede em Malta, propriedade de um português, Ricardo Jorge Pereira de Sousa Coelho.

A história, contada no site BuzzFeed.news, apresenta o português como "um milionário com uma coleção de supercarros, empresas e residências em Malta, Seychelles, Hong Kong, Emirados Árabes Unidos e Estónia”. O artigo explica também que os emails a promover as máscaras começaram a ser enviados em fevereiro e direcionavam os destinatários para diferentes sites de vendas, onde a compra era encorajada, por “restarem poucas unidades”.

Aos jornalistas, o empresário português disse não ter qualquer responsabilidade no caso. Justificou os e-mails/spam para promover as SafeMask como uma ação de comerciantes afiliados desonestos, que a desenvolveram independentemente da sua empresa. Sousa Coelho também alegou que as fotos da máscara nos anúncios mostravam claramente que estas eram descartáveis: "Ninguém pode esperar que uma máscara dure para sempre. Isso é irracional”.

O dono da MDE Commerce reconheceu apenas que a oferta da garantia de três anos foi um erro. Como terá sido a menção incluída em alguma da propaganda, dizendo que os respiradores FFP2 eram fabricados na Europa – isto antes mesmo de este modelo estar aprovado para venda nos Estados Unidos. Segundo a BuzzFeed.news, o documento que Sousa Coelho apresentou como alegada prova da certificação pode não passar de uma falsificação (isto afirmado pela própria Apave, a empresa francesa de testes mencionada no documento).

Certo é que, logo após o contacto feito para o empresário comentar a alegada fraude, o preço da SafeMask caiu aproximadamente 75%, refere o artigo, tendo a oferta da garantia de três anos sido removida.

Esta segunda-feira, as máscaras terão mesmo deixado de estar disponíveis nos sites onde eram vendidas.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: MGanhao@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate