"Sou professora do 1.º ciclo numa escola de uma zona rural de Sintra. Tenho 18 alunos. Desses apenas seis têm computador, só cinco têm impressora em casa e os restantes usam, quando podem, o telemóvel do pai ou da mãe.
Estou em casa há um mês e a minha vida está um caos.
Tenho mais de 40 anos, sou casada e mãe de três filhos. O mais velho, já quase adulto, está a terminar um curso profissional e os gémeos vão fazer em breve dois anos. O meu marido também é professor, numa escola diferente da minha, e vive noutra casa. Até aqui contava com o grande apoio da minha mãe que tem uma bronquite crónica e obviamente está recolhida em casa dela.
O dia 13 de março foi o meu último dia na escola. Como sabia que os miúdos iam ficar um mês em casa (às duas semanas das férias da Páscoa juntavam-se mais duas de confinamento), preparei TPC’s com a perspetiva de que voltaríamos à escola no 3.º período. No final da primeira semana fiz um levantamento do que tinham ou não tinham feito. Muitos só me enviaram duas fichas, outros, os mais aplicados, fizeram grande parte dos trabalhos que até hoje ainda não consegui corrigir. Porquê? Porque para corrigir uma ficha online de um aluno demoro muito mais tempo e tenho muito mais trabalho do que tinha a corrigir quatro fichas ou quatro trabalhos diferentes da turma toda, garanto-vos. Não parei durante todo este tempo e no entanto tenho alunos que ainda não receberam uma palavra minha. É muito frustrante.
Muitos pais estão a trabalhar, nunca deixaram de o fazer, mas outros já perderam o emprego. O stress vivido nas famílias é enorme e os que menos meios têm são naturalmente os mais preocupados. Tenho uma mãe que já me avisou que a filha só tem internet três vezes por semana, as vezes que ela vai a casa de alguém fazer limpezas.
Mas também tenho colegas no meu agrupamento que têm 23 alunos, todos com computador. As assimetrias são brutais.
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