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Coronavírus

Covid-19. “O vírus dentro” dos call centers portugueses: histórias de contágios “camuflados”

Covid-19. “O vírus dentro” dos call centers portugueses: histórias de contágios “camuflados”
Erik Von Weber/Getty Images

Trabalhadores e sindicato do sector denunciam a inação das empresas em proteger os trabalhadores da covid-19. Apontam falta de higienização, ameaças, e recusa de teletrabalho durante o estado de emergência. Associação que representa as empresas diz não ter conhecimento de nenhum caso positivo da doença, e garante que o teletrabalho foi implementado com rapidez

Covid-19. “O vírus dentro” dos call centers portugueses: histórias de contágios “camuflados”

Tiago Soares

Jornalista

João está fechado na sua casa em Lisboa. Sozinho, bem disposto, a recuperar. No dia anterior a falar com o Expresso tinha recebido o resultado do teste: estava infetado com o novo coronavírus. “Estou óptimo. O meu único sintoma é a perda de paladar. Calmo? [ri-se] Sim, estou bastante calmo. Costumo explodir sempre para dentro”, diz. João trabalha no mesmo call center há cinco anos: é responsável por uma equipa de 16 pessoas. Ao telefone, demora a fazer as contas: oito membros da sua equipa estão infetados com a covid-19.

Marco é efectivo no mesmo call center e também está infetado com covid-19. Antes de ser decretado o estado de emergência e o teletrabalho obrigatório, ele e os colegas já tinham sido avisados: “têm que trabalhar se não não vos renovam o contrato.” Mesmo assim, depois do decreto, decidiram atuar. “Não queríamos abandonar o posto de trabalho. Combinámos faltar. Veio um superior dizer que íamos ser prejudicados.” Marco e a maioria dos colegas continuaram a ir trabalhar, mesmo já sabendo que “o vírus já estava dentro da empresa”. “Foi falta de atuação. Qual é a empresa que diz às pessoas para ir trabalhar numa altura destas?” Está a recuperar em casa, onde vive com o pai de 80 anos, que esteve hospitalizado com uma “infeção respiratória”, mas deu negativo ao novo coronavírus.

João e Marco trabalham em Lisboa num dos escritórios da Teleperformance, uma das maiores empresas de call centers em Portugal. Naquele edifício em Alcântara trabalham “cerca de 700 pessoas”, estima João. O edifício foi encerrado a 2 de abril por ordem da Direção-Geral da Saúde, já depois de um comunicado do STCC que denunciava “a recusa da Teleperformance em encerrar o edifício apesar dos casos confirmados de covid-19”. No passado dia 6 de abril, o CEO da Teleperformance em Portugal garantiu à Lusa que 99% dos funcionários em todo o país estariam em teletrabalho a partir do dia seguinte.

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