Covid-19. Pandemia tira dois pontos no PIB por cada mês de bloqueio. Portugal está entre os mais afectados pela crise
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Projeções da OCDE mostram que a pandemia poderá afetar de forma muito diferente vários países. Em Portugal, o confinamento está a roubar cerca de 27% no nível de produção à economia. Portugal é o 11º entre 47 países analisados onde o impacto do "apagão económico" mais se faz sentir. Duração do confinamento será decisiva para perceber os resultados no final do ano
Cada caso é um caso e diferentes economias reagirão de formas distintas à pandemia, mas, pelas projeções da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, em média, a magnitude da queda da atividade económica é tal que a uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de até dois pontos percentuais por cada mês de medidas de contenção, como as que já vigoram em muitos países. "Se o encerramento continuasse por três meses, sem outros fatores de compensação, o PIB anual poderia ser 4 a 6 pontos percentuais mais baixo", indica um estudo divulgado pela OCDE onde a organização avalia o impacto económico da pandemia.
Ainda assim, a OCDE realça que a evolução do PIB em cada país dependerá de vários fatores, como a magnitude e duração dos períodos de contenção e isolamento, o grau de redução da procura de bens e serviços, e a rapidez na aplicação de medidas de apoio por parte dos governos e bancos centrais.
Para já, os cálculos da OCDE mostram que o impacto inicial do confinamento está a tirar 20% a 25% no nível de produção de muitas economias, chegando o consumo privado a afundar-se um terço. "Mudanças desta magnitude irão ultrapassar de longe tudo o que já foi vivido na crise financeira global em 2008-2009", sublinha a mesma entidade.
Há atividades económicas que observam quedas de 50% a 100% no seu nível de produção, com as medidas restritivas e outros efeitos da pandemia. Viagens e turismo, cabeleireiros e negócios imobiliários são alguns dos exemplos de negócios mais afetados no valor das suas vendas, bem como o comércio, restaurantes, cinemas e trabalhos de construção não essenciais.
A diferente exposição dos países a várias indústrias provocará também impactos distintos da pandemia.
Portugal entre os mais penalizados
Segundo a OCDE, em quase meia centena de economias analisadas, Portugal é a 11ª mais penalizada pela pandemia, atrás da Hungria e à frente do Reino Unido. Em Portugal como nestes outros paises, um pouco mais de 25% do PIB pode estar comprometido com as restrições provocadas pelo coronavírus.
Em Espanha e na Alemanha o cenário é pior ainda: o bloqueio da atividade económica poderá provocar um rombo de quase 30% no PIB enquanto durarem as restrições.
De acordo com a OCDE, o país mais penalizado de todos será a Grécia, com a pandemia a "comer" quase 35% do PIB, pelo menos nesta fase inicial. Já a Irlanda apresenta-se no outro extremo como a economia menos afetada, perdendo sensivelmente 15% do seu produto por via das restrições à atividade económica.
Potencial impacto da quebra ou encerramento de atividades económicas. Impacto no PIB a preços constantes. Fonte: OCDE
Entre as potências do G7 será a Alemanha a mais afetada em termos económicos pela pandemia, não obstante ser um dos casos de estudo pela relativamente reduzida taxa de letalidade do coronavírus no país. Seguem-se o Reino Unido, Itália e França.
Os Estados Unidos da América (EUA), com um impacto de 25%, e o Canadá, com um pouco menos que isso, não serão tendencialmente tão penalizados, segundo a OCDE.
A OCDE sublinha que não é fácil estabelecer uma relação direta entre a contração do nível de produção e o PIB, mas estabelece uma escala de equivalência aproximada: por cada mês de contenção, o PIB ressente-se 2 pontos percentuais.
Reino Unido especialmente penalizado no consumo privado
A OCDE avaliou também o impacto da pandemia no consumo privado em algumas das maiores economias do mundo. E para já estima que é no Reino Unido que o consumo privado mais cairá, recuando cerca de 37%.
Em Itália a queda é ligeiramente superior a 35%, tal como na Alemanha, ao passo que a economia francesa deverá sofrer uma queda do consumo privado de pouco mais de 30%.
Nos EUA é expectável que o consumo privado se retraia menos de 30%, prevê a OCDE.
Nesta rubrica, a organização inclui a redução de gastos com vestuário, produtos para a casa, transportes, turismo e entretenimento, entre outras despesas das famílias.
Neste indicador, não são apresentados dados específicos para Portugal.