Esta segunda-feira, em menos de quatro horas, Jair Bolsonaro tentou demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e recuou na decisão, pressionado pelos militares que colaboram na sua Casa Civil e no Governo. A análise de Octavio Amorim Neto, catedrático de Ciência Política na Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, nesta entrevista ao Expresso
A opinião pública brasileira confia nas políticas que têm sido postas em prática pelo médico Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde. Na sua opinião porque é Jair Bolsonaro tentou afastá-lo, esta segunda-feira, dia em que o Brasil registou 12 mil casos de infeção confirmados e 553 mortos?
Ontem [6 de abril], o Presidente Jair Bolsonaro tentou demitir o ministro Luiz Henrique Mandetta, mas mão conseguiu. A pressão em sentido contrário que foi exercida por líderes do Congresso e pelos ministros militares que trabalham no Palácio do Planalto foi decisiva [para o recuo]. O Presidente tinha passado o fim de semana a emitir sinais claros de desagrado com o ministro da Saúde.
Isto põe em causa a autoridade de Bolsonaro como Presidente?
O facto de Bolsonaro — chefe de Estado e de Governo num regime presidencialista puro como o brasileiro, o qual confere ao supremo mandatário o poder de nomear e demitir livremente os ministros — não conseguir exonerar um ministro é evidência contundente de perda de autoridade presidencial.
Bolsonaro sai muito enfraquecido do episódio, mesmo que logre livrar-se de Mandetta mais adiante. Aquele facto por si só já seria preocupante em qualquer circunstância. Torna-se gravíssimo no contexto de uma pandemia, uma vez que o chefe do poder executivo tem o papel vital de coordenar os ministérios, os outros poderes do Estado e os governos estaduais e municipais no esforço de combate à covid-19 e aos seus efeitos económicos.
Pensa, então, que a crise sanitária abriu portas à crise política no Brasil?
No momento atual os brasileiros estão a viver uma gravíssima crise de saúde pública, uma profunda recessão que vem a galope, e uma aguda crise política que pode afetar a capacidade do Estado para enfrentar a pandemia.
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