Coronavírus

“Bolsonaro sai muito enfraquecido” do episódio com o ministro da Saúde, diz politólogo brasileiro

Octávio Amorim Neto,catedrático de Ciência Política na Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro
Octávio Amorim Neto,catedrático de Ciência Política na Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro
Foto António Pedro Ferreira

O Presidente do Brasil tentou demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defensor de uma política de confinamento e isolamento social para travar a pandemia do coronavírus. " O facto de Bolsonaro — chefe de Estado e de Governo num regime presidencialista puro como o brasileiro — não conseguir exonerar um ministro é evidência contundente de perda de autoridade presidencial"

Esta segunda-feira, em menos de quatro horas, Jair Bolsonaro tentou demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e recuou na decisão, pressionado pelos militares que colaboram na sua Casa Civil e no Governo. A análise de Octavio Amorim Neto, catedrático de Ciência Política na Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, nesta entrevista ao Expresso

A opinião pública brasileira confia nas políticas que têm sido postas em prática pelo médico Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde. Na sua opinião porque é Jair Bolsonaro tentou afastá-lo, esta segunda-feira, dia em que o Brasil registou 12 mil casos de infeção confirmados e 553 mortos?
Ontem [6 de abril], o Presidente Jair Bolsonaro tentou demitir o ministro Luiz Henrique Mandetta, mas mão conseguiu. A pressão em sentido contrário que foi exercida por líderes do Congresso e pelos ministros militares que trabalham no Palácio do Planalto foi decisiva [para o recuo]. O Presidente tinha passado o fim de semana a emitir sinais claros de desagrado com o ministro da Saúde.

Isto põe em causa a autoridade de Bolsonaro como Presidente?
O facto de Bolsonaro — chefe de Estado e de Governo num regime presidencialista puro como o brasileiro, o qual confere ao supremo mandatário o poder de nomear e demitir livremente os ministros — não conseguir exonerar um ministro é evidência contundente de perda de autoridade presidencial.
Bolsonaro sai muito enfraquecido do episódio, mesmo que logre livrar-se de Mandetta mais adiante. Aquele facto por si só já seria preocupante em qualquer circunstância. Torna-se gravíssimo no contexto de uma pandemia, uma vez que o chefe do poder executivo tem o papel vital de coordenar os ministérios, os outros poderes do Estado e os governos estaduais e municipais no esforço de combate à covid-19 e aos seus efeitos económicos.

Pensa, então, que a crise sanitária abriu portas à crise política no Brasil?
No momento atual os brasileiros estão a viver uma gravíssima crise de saúde pública, uma profunda recessão que vem a galope, e uma aguda crise política que pode afetar a capacidade do Estado para enfrentar a pandemia.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mgoucha@expresso.impresa.pt

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