Ramalho Eanes marcou pontos na entrevista que deu à RTP ao assumir que, como "velho", se fosse internado com covid-19 daria o seu ventilador a gente mais nova, e Marcelo Rebelo de Sousa tirou-lhe o chapéu.
No programa Prós e Contras, da jornalista Fátima Campos Ferreira - que tinha entrevistado Eanes -, Marcelo associou-se à causa dos velhos: se só tivéssemos isolado "os mais idosos e os doentes mais vulneráveis deixando o resto da população seguir a vida normal, estaríamos a criar guetos e xenofobias involuntárias", defendeu o Presidente.
Lembrando que os idosos representam em Portugal um terço da população e que somados aos mais vulneráveis são perto de 40%, Marcelo tirou a conclusão: "Não há como uma democracia respeitar a pessoa se marginalizar 30% ou 40% da comunidade". Sublinhado a vermelho: o Presidente da República insiste que a contenção social teve/tem de ser para todos, como ele defendeu ao decretar o estado de emergência.
Mas teve mais recados políticos a mensagem televisiva do ex-comentador televisivo Marcelo Rebelo de Sousa. Primeiro: nem pensem em blocos centrais."Uma vez passado este processo, serão naturalmente diferentes os caminhos propostos, como já são hoje, para enfrentar os efeitos económicos e sociais da crise". Ou seja, a unidade vigente nestes tempos de combate à pandemia "não é unicidade" e a diferença de projetos alternativos, espera Marcelo, vai continuar.
Segundo aviso, este mais para o Governo. No combate à crise de saúde pública, "há prioridades e há fases - nesta a prioridade é a vida e a saúde". Mas quando a crise epidemiológica passar, "importa que a economia e a sociedade se normalizem". E, aí, superar "o impacto na sociedade e na economia não pode ser só tapar buracos - tem de ser pensar o futuro a prazo". Marcelo anda há cinco anos a pedir isso.
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