Idosos do distrito de Sussex, no sueste de Inglaterra, sul do País de Gales e Leeds, a norte, estão entre os que viram incluídas nos seus planos de saúde cláusulas de “não-reanimação” (DNAR - Do Not Attempt Resuscitation) sem que eles próprios ou a suas famílias tenham sido informados de forma satisfatória, escreve o diário “The Guardian”.
As famílias e os médicos que seguem algumas destas pessoas estão preocupados com o que consideram uma ordem “em massa” para não ressuscitar os mais idosos na eventualidade de enfrentarem complicações de saúde graves por causa do novo coronavírus. Decidiram expor o caso ao jornal londrino. A Comissão da Qualidade de Cuidados, organismo britânico que escrutina os cuidados de saúde, já emitiu um aviso e classifica a prática como “inaceitável”.
Estes documentos são comuns entre os planos de saúde dos mais velhos, porque a prática de ressuscitar alguém cujo coração tenha parado causa quase sempre traumas físicos graves e psicológicos mas a comissão e outras organizações médicas consideram grave que estas declarações estejam a ser assinadas por idosos “sob pressão” das enfermeiras ou médicos que os assistem nos lares.
Algumas destas instituições garantem ter recebido “conselhos” de enfermeiras para “falar de novo sobre ordens de não-reanimação com os utentes que as tinham recusado de início”. “The Guardian” também falou com uma assistente social do País de Gales que contou que todos os 20 utentes da instituição onde trabalha assinaram ordens deste tipo depois da visita recente de um médico.
O Serviço Nacional de Saúde (NHS, em inglês) do País de Gales foi obrigado a pedir desculpas públicas depois de um consultório médico perto de Port Talbot ter recomendado aos pacientes com doenças previamente adquiridas que assinassem documentos deste tipo.
“Gostaríamos de pedir-lhe que preenchesse um formulário DNAR que possamos partilhar com os serviços de saúde locais. Isto significa que, em caso de deterioração repentina da sua condição devido a infeção com covid-19, os serviços de emergência não serão chamados e tentativas de ressuscitação para reiniciar o batimento do seu coração ou a sua respiração não será tentadas”, dizia a nota enviada aos utentes de um centro de saúde em Port Talbot, que elencava ainda os benefícios desta prática.
“Em primeiro lugar o seu clínico geral e, mais importante, os seus amigos e familiares saberão que não têm de ligar para as emergências e, em segundo, os escassos recursos podem ser direcionados para jovens e pessoas em boa forma física, que têm maior probabilidade de sobreviver.”
O aviso do regulador, porém, adverte de forma taxativa contra esta prática. “É inaceitável que estes planos de saúde, com ou sem estes formulários, sejam acionados para um grupo de pessoas indiscriminadamente. Estas decisões continuam a ter de ser tomadas individualmente, caso a caso.”
É possível que estas instruções estejam a ser dadas antevendo que muitos utentes de lares não cheguem a ser internados no hospital. Peter Kyle, deputado do Partido Trabalhista pelo círculo de Hove, disse ao jornal britânico que 16 dos 26 idosos num dos lares da cidade tinham assinado estas declarações. Kyle está preocupado com o facto de os funcionários destas instituições ainda não estarem a ser submetidos a testes.
“Se o Governo não começar a testar os trabalhadores de lares nos próximos dias, estará a permitir, conscientemente, que as pessoas nos lares sejam infetadas e morram.” Os doentes podem acabar sem ninguém que cuide deles, ou passar os dias mais aflitivos da doença sem todos os cuidados que podiam ter recebido.
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