O patrão da indústria, António Saraiva, não foi à reunião que, durante toda a manhã desta terça-feira, juntou altos responsáveis políticos, parceiros sociais e especialistas em epidemiologia. E a CIP não enviou qualquer representante. "Era só para dirigentes das organizações e eu não estava disponível, por outros compromissos inadiáveis para resolver situações nas empresas", disse Saraiva ao Expresso.
Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo, também não compareceu, mas fez-se representar por um outro dirigente da organização. O facto de este ser um dos sectores mais atingidos pelo surto da Covid 19, leva os dirigentes dos patrões a estar "com a cabeça debaixo de água", disse ao Expresso. Ainda esta segunda-feira, as confederações patronais estiveram reunidas com o Governo e sindicatos na Concertação Social durante várias horas. O encontro de hoje, que se previa durar apenas entre as 10 e as 11 horas, acabou por se prolongar até às 13 e 30.
As mais altas figuras do Estado (do Presidente da República, ao primeiro-ministro, passando pelo presidente da Assembleia da República e por todos os líderes partidários) juntaram-se aos parceiros sociais. O encontro decorreu numa sala do Infarmed, "respeitando a distância de segurança entre os vários lugares". Os assentos estavam já devidamente assinalados quando os convidados começaram a chegar ao local e as cadeiras dispostas em cruz, para garantir que todos os presentes ficavam a mais de dois metros de distância uns dos outros. Havia ainda desinfectante para as mãos disponível e um microfone de pé, para que todos os que quisessem intervir pudessem falar, sem tocar no aparelho e mantendo, também, a devida distância. Nenhum dos presentes usou máscara, apurou o Expresso.
CGTP e UGT preocupadas
Ao contrário das confederações patronais, cada uma das duas centrais sindicais enviou dois dirigentes à reunião com os técnicos de Saúde Pública. Isabel Camarinha, secretária geral da CGTP, fez-se acompanhar por José Carlos Martins, da Executiva da central sindical e dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses. Da parte da UGT, foram duas das secretárias-gerais adjuntas a marcar presença no encontro: Dina Carvalho e Paula Bernardo representaram Carlos Silva, o líder da central sindical, que se encontra fora de Lisboa.
"Foi uma reunião de informação, onde nos facultaram dados muito importantes e fundamentados cientificamente sobre o que se está a passar", disse Isabel Camarinha ao Expresso. "Não houve nada de particularmente novo", admitiu a sindicalista, para quem é já claro que estamos perante "uma situação muitíssimo complexa e que pode ser prolongada no tempo".
"Foram muito claros e explícitos", prossegue Dina Carvalho, da UGT, para quem o facto de ter sido facultada "informação verdadeira e sem filtros" tornou "a reunião muito produtiva". No entanto, "ainda há muitas incertezas" que toldam o horizonte do desenvolvimento desta pandemia,conclui Paula Bernardo, também da UGT. E a verdade é que as sindicalistas ouviram "informações preocupantes". "Naturalmente, não nos podem deixar tranquilas", conclui Dina Carvalho.
Uma coisa é certa: os peritos deixaram claro que esta é uma situação que se vai prolongar no tempo e que, "prevendo-se o pico da epidemia para meados de abril", os efeitos de contenção da doença poderão prolongar-se pelos meses de maio e junho.
A intenção de evitar um pico súbito de casos que levasse a uma rotura do SNS, assim como a necessidade de proteger os principais grupos de risco - desde os profissionais de saúde, que estão na primeira linha do combate, aos mais velhos e aos doentes crónicos - foram outras das tónicas da reunião.
"Não estamos contra estas prioridades, nem contra as medidas tomadas", diz Isabel Camarinha, mas "enquanto sindicalista não posso deixar de ter uma enorme preocupação sobre o impacto que esta situação terá sobre a vida dos trabalhadores", diz ao Expresso. Para além de "não haver, neste momento, garantia de protecção e segurança de muitos trabalhadores, nomeadamente na área da Saúde", os sindicatos têm vindo a registar "um retrato muito negro de abusos e ilegalidades" já cometidos por parte das empresas, que dispensam ou despedem trabalhadores em plena crise epidémica.
"É preciso acentuar a necessidade de garantir aos trabalhadores a manutenção dos seus postos de trabalho e os seus vencimentos na íntegra", diz a líder da CGTP. As medidas excepcionais decretadas pelo Governo não garantem estes objetivos e Isabel Camarinha teme que isso "coloque muitos trabalhadores numa situação de impossibilidade de assegurar a sua subsistência". A central sindical alerta o Governo para a necessidade de tomar mais medidas, nomeadamente de forma a "salvaguardar o sistema de Segurança Social, que é quem está a ser chamado a pagar a maior parte da despesa". Promete ainda denunciar às autoridades de trabalho os casos de violação das leis laborais que, segundo Isabel Camarinha, estão a atingir empresas, um pouco por todo o País.
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