Já se tinha verificado na China e está agora a acontecer em todo o mundo. A redução da poluição, fruto do encerramento forçado da atividade industrial por causa da pandemia do novo coronavírus, está a reduzir significativamente os níveis de poluição do ar. Isso mesmo mostram várias imagens de satélite da Agência Espacial Europeia.
As leituras do satélite Sentinel-5P mostram que, nas últimas seis semanas, os níveis de dióxido de azoto (NO2) nas cidades e aglomerados industriais na Ásia e na Europa foram muito mais baixos do que no mesmo período do ano passado.
Resultado das emissões dos motores dos automóveis, das centrais de energia e de outros processos industriais, o NO2 tem efeitos muito nocivos, em especial para quem sofra de doenças respiratórias, como a asma. É um tipo de poluente com origem nas mesmas atividades e sectores industriais responsáveis pelas emissões de dióxido de carbono, às que são apontadas o dedo pelo aquecimento global.
Sem deixar de lembrar a perda de vidas que está em causa, Paul Monks, professor da Universidade de Leicester, citado pelo “The Guardian”, fala do momento que atravessamos como a “experiência” inadvertida de maior escala alguma vez realizada, que nos permite tirar conclusões importantes. “Estamos a ver o que é possível no futuro, mudando para uma economia com baixas emissões de carbono”.
As vantagens não são apenas em termos de saúde pública, lembra, mas também para atividades como a agricultura, já que a poluição afeta o desenvolvimento das culturas.
Por outro lado, a Organização Mundial da Saúde sublinha que o NO2 é um gás tóxico, cuja excessiva concentração “pode provocar inflamações significativas nas vias aéreas”. Saber se as partículas de poluição transportadas pelo ar podem contribuir para espalhar o novo vírus e torná-lo mais agressivo é uma hipótese a ser investigada.
As imagens de satélite mostram o mesmo tipo de efeito pós-pandemia, na China, Coreia do Sul e Itália.
Uma das maiores quedas nos níveis de poluição foi registada em Wuhan, cidade chinesa que foi submetida a um rígido bloqueio no final de janeiro. Os níveis de dióxido de azoto no leste e no centro da China foram 10 a 30% mais baixos do que o normal.
No caso de Itália, e desde que o país entrou em bloqueio a 9 de março, os níveis de NO2 em Milão e noutras zonas do norte da Itália caíram cerca de 40%.
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