Carta Elétrica

Saiba como e onde pode (e deve) carregar o carro na rua

Rede. Neste segundo de quatro guias que o Expresso está a fazer sobre mobilidade elétrica, mostramos-lhe a evolução da rede de postos públicos em Portugal e como usá-la da melhor forma, para não gastar mais tempo e dinheiro do que precisa

Saiba como e onde pode (e deve) carregar o carro na rua

Ana Baptista

Jornalista

Comprei ou vou comprar um carro elétrico. Onde o poderei carregar?
Em casa ou no escritório, mas se não for possível porque nenhum deles tem estacionamento próprio, tem de usar a rede de acesso público (ver infografia).

Onde ficam esses postos de acesso público?
Na rua, nos parques dos hospitais, centros comerciais, restaurantes, hotéis, ginásios, cinemas ou supermercados. Estes são, na sua maioria, postos normais, que carregam mais devagar. Também há postos nas autoestradas, mas esses são rápidos, que, como o nome indica, carregam mais depressa. Nos sites da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) e da MOBI.E, a gestora da rede pública, há indicação de sites e aplicações que mostram onde estão os postos mais próximos, se estão disponíveis, qual o preço a pagar pelo carregamento e o tempo que demora.

Carlos Monteiro

E posso usar qualquer posto?
Sim, mas tem de ter em atenção as especificidades técnicas do carro e do posto, para não demorar mais tempo e gastar mais dinheiro do que realmente precisa. Essa informação está nos postos e nos carros, mas passamos a explicar. Os postos normais carregam em corrente alternada (AC), ou seja, quando a energia passa para o carro, tem de ser convertida, e, portanto, o que dita a velocidade de carregamento é a potência do carregador do carro. Ora, um posto normal tem uma potência de carregamento entre 3,7 kW e 22 kW (quilowatts), o que significa que o ideal é que o carro tenha a mesma potência de carga que o posto, porque prevalece sempre a potência mais baixa. Por exemplo, um carro com um carregador de 11 kW — que é o que tem a maioria dos que há hoje no mercado — só carrega a 11 kW mesmo que o posto seja de 22 kW. Se escolher um posto que carregue a 3,7 kW, então é a essa velocidade que vai carregar, e não a 11 kW.

E nos postos rápidos é igual?
Sim e não. Também aqui é a potência de carga mais baixa que prevalece, só que, neste caso, não é a do carregador do carro que conta, mas sim a da bateria. É que os postos rápidos usam corrente contínua (DC) e por isso já não há conversão e a eletricidade vai diretamente para a bateria. Ora, os postos rápidos têm 22 kW a 50 kW e por conseguinte o ideal é que os carros tenham uma bateria com a mesma potência de carga. Contudo, como já referido, é o valor mais baixo que prevalece, e se o carro tiver uma potência de carga de 60 kW então vai carregar mais devagar, porque o posto só dá 50 kW.

Ouvi falar em postos super-rápidos. O que é isso?
O nome diz tudo. Permitem carregar a uma potência de 100 kW a 150 kW e há cada vez mais postos destes, principalmente nas autoestradas. Não só para garantir carregamentos ainda mais rápidos, que é o que todos os condutores procuram, mas também porque os carros atuais já têm quase todos potências de carregamento de 100 kW.
Há ainda postos ultrarrápidos — de 160 kW a 350 kW —, mas são escassos, porque “ainda há poucos carros com potências destas”, diz o presidente da UVE, Henrique Sanchéz. “A 350 kW só mesmo o Porsche Taycan.” Mas nada disso invalida que se use estes postos, vai é demorar mais tempo a carregar. “Se o carro tiver uma bateria de 60 kW, só carrega a 60 kW, mesmo que o posto tenha 100 kW”, diz Pedro Vinagre, administrador da EDP Comercial.

Então, quanto tempo demoro a carregar o carro?
Num posto normal, entre oito e cinco horas até 80%. “Não se deve ir acima disso nos postos da rua, porque demora tanto a carregar até aos 80% como daí aos 100%, e com 80% já faz 300 km”, diz Henrique Sanchéz. Para carregar até aos 100% o ideal é fazê-lo em casa, diz, porque os preços são mais baixos do que na rua. Já num posto rápido, o carregamento pode durar 20 a 30 minutos; nos super-rápidos, 10 minutos e nos ultrarrápidos pode mesmo ser apenas cinco minutos, mas, como ainda há poucos carros com estas potências, se usar estes postos demora o mesmo que nos rápidos ou super-rápidos.

Oito a cinco horas é muito tempo…
Se estiver a trabalhar, vai estar no mesmo local durante esse período de tempo, e se estiver em casa pode deixar a carregar a noite toda. E no dia a dia, se estiver dentro da cidade, não precisa de tanta autonomia (em média, faz 50 km num dia) nem de carregar até 80%, e pode usar um posto normal, por exemplo, quando vai ao supermercado ou jantar fora. Até porque “não há problema em carregar muitas vezes durante pouco tempo, o que faz mal são muitos carregamentos rápidos de 100%”, explica Henrique Sanchéz. Mas pode sempre escolher um posto rápido, que, apesar de a maior parte ser nas autoestradas, também há nas cidades. Vai é sair mais caro, porque os postos normais são mais baratos que os rápidos.

Carlos Monteiro

E ninguém me leva o carro?
Não. O posto tem um travão que impede de tirar o carregador do carro, só passando o cartão é que ele sai.

E quanto custa?
O preço final é composto por três parcelas: o custo da energia consumida, o uso do posto de carregamento, que depende do tempo que o carro lá fica, e as taxas (IVA, por exemplo), as únicas que são fixas. A primeira depende do comercializador que vende a eletricidade e a segunda depende do operador do posto de carregamento. Em média, carregar num posto rápido ou super-rápido custa 40 cêntimos por quilowatt hora, já incluindo o tempo de uso do posto, o que significa que carregar o suficiente para fazer 100 km lhe custa €6. Num posto normal, custa 30 cêntimos por quilowatt hora. Por isso é que escolher o posto certo é tão importante. Se escolher um posto rápido mas o seu carro carregar a uma menor potência, vai estar a gastar mais dinheiro, embora vá demorar o mesmo tempo.

E como faço para carregar o carro num posto na rua?
Para usar o posto tem de fazer um contrato com um CEME — Comercializador para a Mobilidade Elétrica. Atualmente, há 20 CEME, como a EDP Comercial, a Galp, a Prio, a Repsol, a Iberdrola ou a MEO Energia. É como ter uma conta de eletricidade de casa, mas para os consumos do carro. Até lhe chega uma fatura no final do mês. Feito o contrato, o CEME dá-lhe um cartão para passar no posto e depois é só escolher o tipo de carregamento e a tomada, e já está.

Textos originalmente publicados no Expresso de 23 de outubro de 2021

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