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De Mirandela para o mundo: “Segredo 6”, o vinho inspirado na camisola de um jogador de futebol

Segredo 6
Segredo 6

Criado por dois amigos, ambos de apelido Costa, o antigo jogador de futebol e apaixonado pelo mundo dos vinhos, Costinha, e o produtor António Costa Boal, o “Segredo 6” tem origem em vinhas velhas numa região ainda quase secreta na produção de vinhos: Mirandela.

De Mirandela para o mundo: “Segredo 6”, o vinho inspirado na camisola de um jogador de futebol

Dora Troncão

Jornalista

Esta ideia só poderia ter surgido à mesa, durante uma refeição bem regada. Há mais de quatro anos que Francisco Costa, que no mundo do futebol respondia pelo nome Costinha, e António Costa Boal, da Costa Boal Family Estates, sonharam um vinho. Este foi o pontapé de saída para o “Segredo 6”. Em 2022, depois do respetivo estágio, foi apresentado ao público o resultado vitorioso deste projeto que nasce apoiado numa forte amizade.

Faz parte de uma edição limitada de 672 garrafas, com preços desde €600, das quais 600 são de 1,5 litros, 66 de 5 litros e 6 de 15 litros. A predileção pelo algarismo “6”, exibido no rótulo da garrafa, deve-se precisamente ao facto de ter sido o número da camisola de Costinha quando jogador do Futebol Clube do Porto e da Seleção Nacional.

O “Segredo 6” é produzido de raiz em Mirandela, região de Trás-os-Montes, com uvas de vinhas velhas, em média com mais de 65 anos de idade. Mistura várias castas autóctones da região, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Amarela e Alicante Bouschet. A colheita foi feita à mão no ano vitícola de 2019, um ano seco e sujeito a grandes oscilações das temperaturas. Na parcela com 3,5 hectares, em agosto “estrela um ovo nas pedras junto à vinha porque o calor é avassalador, mas as noites são outra coisa, há ventilação, temos sítios muito ventosos, e, a prova disso, é conhecimento do povo que colocava sempre a vinha nas encostas enquanto os olivais eram plantados no fundo dos terrenos porque não precisavam de ventilação, que só daria mais trabalho a apanhar as azeitonas”, explica Paulo Nunes, o enólogo apelidado de “alquimista de vinhas velhas” pela equipa de enologia da Costa Boal e responsável pela criação deste vinho inusitado. “Quando me desafiaram para um projeto baseado em vinhas antigas, vinhas velhas, além de ser a minha cara, o que me cativou foi perceber que esta é uma empresa constituída no sentido de ir à procura da vinha e não, como muitas vezes acontece, de ir à procura do vinho e isso foi determinante em todo o projeto”, revela ainda o enólogo, habituado aos meandros do Dão na Casa da Passarella.

A vinificação foi feita em lagar de granito e o estágio em barricas de carvalho francês

Aponta “uma simbiose perfeita da planta com um terroir extremo”, no qual “existe xisto e algum quartzo, com características muito diferenciadas”. Considera que “esquecemos muitas vezes de falar com um geólogo”, que, “no futuro, fará parte de uma equipa de enologia”. “Sentido estas diferenças analíticas na fruta, percebo que tenho de estudar mais geologia”, admite.

A vindima acontece no final de agosto, “com uma maturação fenólica incrível e uma componente fresca que surpreende”, reforça. Este é um vinho muito jovem, ácido e fresco precisamente, “daí a opção de grandes formatos de garrafa”, revela o enólogo. “Temos vinho para 10/15 anos, parece que o vinho cristalizou desde o engarrafamento, o que é confortante na medida em que é um vinho com um target de guarda”, diz ainda. A empresa que comercializa o “Segredo 6” é a 2CC Wine, nome que junta os dois “C” de dois "Costa” (António e Francisco), e assume-se como o “único produtor de vinho de parcela que chega ao mercado apenas em grandes formatos”.

O estágio, de um ano a 18 meses, fez-se em barrica de carvalho francês da tanoaria nacional JM Gonçalves. O “Segredo 6” foi, na realidade, mantido em segredo, “até dos próprios adegueiros que não tinham presente os vinhos que tínhamos nas barricas”, segundo Paulo Nunes. A vinificação foi feita em lagar de granito, mas “o pensamento deste projeto começa na vinha e o caminho é feito numa procura de fazer melhor, não desvincula nenhum processo de vinificação, sendo o caminho de aprendizagem para todos”.

Costinha poderia ter considerado uma outra região vitivinícola mais mediática. Já tinha o sonho de ter vinhas perto de casa, no Alentejo talvez, mas o desafio falou mais alto. “Este é o primeiro projeto em que estou envolvido, espero que não seja o último na companhia destes dois senhores”, sublinhou o antigo jogador, durante a apresentação do “Segredo 6” no JNcQuoi Club, em Lisboa, referindo-se a António Costa Boal e Paulo Nunes. Desejou que “o projeto seja um sucesso, mas acima de tudo que as pessoas gostem do vinho”.

Os vinhos consumidos há 20 ou 30 anos à porta das pessoas em Trás-os-Montes prometem tornar-se globais com a 2CC Wine (Tel. 965220611), que, para já, segundo António Costa Boal, assume os compromissos de “um relançamento das restantes garrafas do Segredo 6 daqui a quatro/cinco anos” e de ter “sempre projetos assentes em vinhas velhas”.

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