No Douro, há quem tenha nascido e crescido entre vinhas e barricas e lhe corra no sangue o vinho generoso. É o caso de Cristiano Van Zeller que em cada garrafa de vinho do Porto encontra uma história para contar sobre o mais emblemático dos vinhos nacionais
No Dia Internacional do Vinho do Porto, que se celebra esta quinta-feira, dia 27 de janeiro, várias iniciativas e brindes assinalam a data, que terá sido criada de forma acidental. Desafiado para os guias de vinhos do Expresso, Cristiano Van Zeller, da Van Zellers & Co., uma das personalidades incontornáveis do Douro, recorda a ligação, com o Vinho do Porto, desde o dia em que nasceu, parte do trajeto profissional e deixa, para memória futura, cinco sugestões de produções incontornáveis e emblemáticas do mais famoso e icónico vinho português.
“Quando nasci, o meu tio Luís deu-me a cheirar uma gota de Vinho do Porto e esse aroma nunca mais me deixou. Sou parte do Douro. O Douro é parte de mim. É aqui que mantenho vivo o espírito inovador e criativo de mais de 400 anos de história de família no negócio dos vinhos no Douro. É aqui que tenho conseguido pôr em prática a minha visão para a região, em colocá-la no mapa internacional, também em conjunto com os Douro Boys. Depois de “nascer” para o negócio do Vinho do Porto na Quinta do Noval, com esta missão, no início dos anos 90, criei a Quinta Vale D. Maria, ao mesmo tempo que participei na criação de outros projetos emblemáticos. É no Douro que hoje relanço a Van Zellers & Co. Quero manter vivo o nosso conhecimento profundo sobre o Vinho do Porto, sobre o Douro, mas também reinventar a relação dos seus vinhos com o mundo. Por isso, definimos uma nova linguagem e filosofia. Na Van Zellers & Co convidamos as pessoas a experimentar vinhos feitos pela Mão do Homem (Wines Crafted by Hand), feitos pela Natureza (Wines Crafted by Nature), feitos pelo Tempo (Wines Crafted by Time). Com esta abordagem acreditamos que estamos a aproximar o Vinho do Porto dos novos consumidores, sendo que a nossa ideia de experiência não se esgota nos vinhos: são apenas um pretexto para juntar pessoas, para contar histórias e criar memórias.”
Niepoort Porto Garrafeira 1931
Memorável pela inovação e inesquecível pela qualidade única e irrepetível mas, sobretudo, pela memória do dia em que o provei e de Rolf Niepoort, que nunca se cansou de me ensinar.
Quinta do Noval Porto Vintage Nacional 1962
Apesar do 1963 ser o de mais fama e, indiscutivelmente o mais “poderoso”, as minhas maiores memórias de tempos passado, nas melhores companhias, na Quinta do Noval, estão ligadas ao 1962, um vinho soberbo, engarrafado tão puro que, um dia, ao decantar uma garrafa, de dentro sai um cacho, ainda com várias películas agarradas.
Quinta de Roriz Porto Pipa Velha
O final dos jantares em Roriz, na companhia da família e do meu tio-avô Pedro van Zeller, proprietário da Quinta de Roriz, uma enciclopédia viva sobre o Douro e o Vinho do Porto, saboreando um vinho único, só para a família, cuja base datava pelo menos de 1927, com uma cor que o fazia parecer um “adolescente” e aromas que enchiam toda a casa.
Quinta Vale D. Maria Porto Vintage 2002
Um ano extremamente difícil, nos começos de um grande projeto, uma explosão de aromas de esteva e rosmaninho, nunca antes, nem depois, repetido em qualquer Vinho do Porto que algum dia tenha provado.
Van Zellers & Co. Porto 20 Anos
Um tawny velho, feito à medida das minhas memórias dos aromas da infância (como o são o 10, 30 e Mais de 40 Anos) passada entre pipas nos armazéns de Gaia e na sala de provas, a ver o meu bisavô Luís Vasconcelos Porto (criador dos primeiros Portos de Idade na já longínqua década de 1920), o meu primo Frederico van Zeller e o meu tio Luís van Zeller a “cozinhar” todos aqueles perfumes magníficos e a cheirar, com eles, os resultados finais.
Este texto foi adaptado do Guia de Vinhos oferecido pelo Expresso, com produção Boa Cama Boa Mesa, sábado, dia 30 de outubro.
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