Doce, ácida e crocante: a Maçã de Alcobaça cresce lentamente com a brisa do mar
A Maçã de Alcobaça engloba diversas variedades de maçã. Tem Indicação Geográfica Protegida desde 1994 e distingue-se pela doçura e acidez, pela influência marítima e pelo crescimento lento. Quem o diz é Jorge Soares, presidente da Associação dos Produtores da Maçã de Alcobaça. “Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante
Com Indicação Geográfica Protegida desde 1994, a Maçã de Alcobaça, cuja produção é limitada aos “concelhos de Alcobaça, Batalha, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Leiria, Lourinhã, Marinha Grande, Nazaré, Óbidos, Peniche, Porto de Mós, Rio Maior e Torres Vedras”, segundo a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), é um produto com enorme importância histórica e engloba diversas variedades de maçã, como Casa Nova, Golden Delicious, Red Delicious, Fuji, Granny Smith, Jonagold, Reineta e Pink. E não é uma variedade, como muitos pensam.
A zona de produção da maçã de Alcobaça “corresponde à área do território secularmente conhecida por «coutos de Alcobaça». Os monges ocuparam assim as áreas com aptidão agrícola, e que correspondem às atuais áreas de produção da maçã. Numa época em que a doçaria estava pouco desenvolvida, a maçã servia de sobremesa depois de faustosas refeições”, lê-se na página oficial da DGADR. E Jorge Soares, presidente da Associação dos Produtores da Maçã de Alcobaça (APMA), entidade gestora da IGP, corrobora: “há registos de produção de maçã nesta região desde o século XII porque o clima e os solos permitem.”
Maçã de Alcobaça
Entre 1963 e 1966, começa a haver pomares “com algum ordenamento, alguma estratégia e algum conhecimento”, conta. Mas os produtores não estavam organizados nem unidos no acesso ao mercado. Além disso, "um produtor tinha uma área média inferior a três hectares de pomar”. No entanto, a vontade de desenvolver uma cultura com potencial direcionou-os para a criação de um sistema de produção integrada, “onde se procurava a regeneração dos ecossistemas e dos solos”, mantendo o sabor das maçãs. “Hoje somos uma marca coletiva e uma IGP, mas isso é património da região. Além do modo de produção e de tratamento da fruta que essa certificação nos obriga a ter, temos um conjunto de regras adicionais que colocamos a nós próprios para que as nossas maçãs sejam, de facto, diferentes”, acrescenta.
Maçã de Alcobaça
O que é que a Maçã de Alcobaça tem?
“A Maçã de Alcobaça é um produto certificado pela sua origem que garante total segurança alimentar, porque é produzido, no nosso entender, com o sistema de produção mais ambiental, mais ecológico do mundo, excluindo o sistema de agricultura biológica, que nós também conhecemos, mas que não é aí que queremos estar”, refere Jorge Soares. “Mas caminhamos para um modelo único, onde estamos a desenvolver uma rede de ecopomares, que queremos que sejam visíveis a curto prazo.” Assim, acompanham uma das medidas da PAC para o período compreendido entre 2023 e 2027, que pretende contribuir para a adaptação às alterações climáticas e para a atenuação dos seus efeitos, bem como para a energia sustentável.
Consistente, crocante, com uma percentagem de açúcar generosa e uma acidez elevada, a Maçã de Alcobaça tem um sabor característico, muito graças a esse contraste agridoce. “Conseguimos ter o melhor dos dois mundos”, afirma, com orgulho. O facto de ser “uma das poucas, no mundo, que é produzida com tanta influência marítima”, faz desta “maçã atlântica” ainda mais especial. Por norma, “as maçãs crescem mais nos climas montanhosos, onde há muito frio no inverno, temperaturas amenas na primavera e calor no verão.” Do ponto de vista nutricional e funcional, é mais enriquecida, uma vez que cresce mais lentamente. “Uma Maçã de Alcobaça cresce cerca de meio milímetro por dia”, revela Jorge Soares.
Maçã de Alcobaça
A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC - Política Agrícola Comum que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.
“Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.
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