De acidez vibrante, cores e aromas variados, a Sidra da Madeira está viva e recomenda-se
Com Indicação Geográfica desde 2020, a Sidra da Madeira sempre foi produzida na ilha. No início do século, começou a ter mais notoriedade. Manuel Gonçalves, também conhecido como Manuel Neto, fala sobre a importância da bebida e a criação da Coop Bio, a primeira sidra biológica da Região Autónoma. “Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante
A Sidra da Madeira, “bebida obtida pela fermentação do sumo natural proveniente da prensagem de frutos frescos de macieira (Malus domestica Borkh.) e, por vezes, também de misturas de frutos de macieira e pereira (Pyrus communis L.)”, como descreve a Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, é um produto único e protegido com Indicação Geográfica desde 2020. Ligada desde sempre à ilha da Madeira, “distingue-se por ser uma sidra natural, por vezes também gaseificada, que apresenta uma grande diversidade de cores, aromas e sabores e também uma acidez vibrante que lhe conferem elevado prestígio entre os consumidores”. Para isso, contribuem os “microclimas mais temperados” e os solos “de acidez mais ou menos acentuada” dos pomares.
Sidra da Madeira
Com um “teor alcoólico mínimo de 5% (em volume a 20.ºC); um teor em açúcares fermentáveis inferior a 15g/l; uma acidez total (em ácido málico) mínima de 3g/l podendo chegar aos 10g/l; uma acidez volátil (expressa em ácido acético) máxima de 1,8g/l e um teor máximo de dióxido de enxofre total (expressos em SO2) de 200mg/l”, a sidra da Madeira “pode apresentar uma coloração que vai do citrino brilhante ao amarelo palha, com nuances alaranjadas, sendo de aspeto límpido se filtrada ou com vestígios de partículas se não filtrada”.
“Antes de ser sidra, costumava chamar-se vinho de peros”, elucida Manuel Gonçalves, também conhecido como Manuel Neto, presidente da Direção da CAL - Cooperativa de Produção e Consumo Liberdade. “Praticamente tudo o que há na Madeira, em termos alimentares, foi trazido de fora. As macieiras, os pereiros, as pereiras foram introduzidos a partir do início do povoamento, mas nunca constituíram o ciclo económico da ilha, como os cereais, o açúcar e o vinho.” Os frutos eram destinados ao consumo e a sidra que se fazia era produzida de forma rudimentar.
Sidra da Madeira
No início do século, “houve uma pessoa com um papel fundamental na renovação da sidra e na introdução de outra técnicas, o padre Rui Sousa, que estava na paróquia dos Prazeres. Criou uma quinta pedagógica, instalou um campo de variedades, um lagar, e começou a introduzir outras técnicas e a aplicar outros conhecimentos. Esse foi o momento de viragem, que está a dar os resultados que hoje conhecemos”, explica Manuel. Em 2016, foi constituída uma associação de produtores de sidra, com 14 produtores, e em 2020 é criado um decreto que regulamenta o setor, desde a produção à comercialização. No mesmo ano, “é inaugurada a primeira sidraria pública da Madeira, a Sidraria de Santo António da Serra, no município de Machico”. Atualmente, já há uma sidraria pública, duas privadas e está prevista outra pública, “do lado norte da ilha”, em São Roque do Faial, Santana.
O aumento do consumo de sidra em todo o mundo trouxe também benefícios à divulgação da sidra em Portugal, sendo que a sidra da Madeira tem obtido diversos prémios em concursos. “Além disso, na base penso que estará a preocupação de valorizar uma bebida com baixo teor de álcool e que, segundo os estudos que vão sendo feitos, se for natural, tem benefícios para a saúde.”
Sidra Coop Bio
Sidra Coop Bio, a primeira sidra biológica da Madeira
Na freguesia de Jardim da Serra, em Câmara de Lobos, também havia a tradição de produção de sidra, mas as melhores maçãs eram enviadas para o Funchal, para abastecer hotéis e navios de cruzeiro. Só a fruta “mais miúda” ficava para a sidra. Assim, “os produtores começaram a perceber que não tinham rentabilidade e foram abandonando os pomares”. No sentido de melhorar a posição dos agricultores na cadeia de valor, de acordo com uma das medidas da PAC para o período 2023-2027, a junta de freguesia criou um campo de variedades, instalado na Quinta Leonor, e foi feita uma “valorização e preservação de variedades, convertendo-as e transformando-as em sidra”.
Com a inauguração da Sidraria Pública de Santo António da Serra, foi possível avançar com a ideia de produzir sidra biológica. “Tínhamos maçã bio e um local para fazer a sidra.” A CAL decidiu adquirir os peros e as maçãs do Bio Hotel Quinta da Serra, da Quinta Leonor e de dois produtores individuais e, a partir desses frutos, muitos de variedades antigas e pouco conhecidas, como o Pero Domingos, o Pero Calhau, o Pero da Festa, o Pero Vermelho, entre outros, criar “a primeira sidra biológica da Região Autónoma da Madeira”, em 2022. O lançamento da sidra Coop Bio foi feito em março deste ano, com 1100 garrafas. “É uma sidra com um grande equilíbrio entre doçura e acidez, com um aroma frutado, acompanha bem com carne e peixe”, refere.
Sidra da Madeira
A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC - Política Agrícola Comum que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.
“Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.
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