Alface-do-mar, cabelo-de-velha e nori do Atlântico: o prato quer-se cheio de algas
As algas são benéficas para a saúde e uma tendência crescente na gastronomia, graças à alta cozinha. Mas o seu consumo também remete para outros tempos, lembra Helena Abreu, bióloga marinha e co-gerente da Algaplus, em Ílhavo, uma empresa sustentável que só produz espécies nativas. “Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante
Por que não utilizar antigas salinas e zonas subaproveitadas da Ria de Aveiro ou Ria Formosa para produzir espécies de algas que seriam fornecidas para outros mercados? Foi a pergunta que repetiu Helena Abreu, bióloga marinha e co-gerente da Algaplus, durante os trabalhos de doutoramento, entre 2006 e 2010. Referia-se especialmente ao mercado francês, que “já nessa altura procurava biomassa de algas produzida de forma sustentável na Europa”, uma vez que “dependiam exclusivamente da apanha de algas de comunidades selvagens” e, com a pressão do mercado, se tornava “completamente insustentável depender de uma população natural de algas, que tão importante é para o equilíbrio dos ecossistemas marinhos”, explica.
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A primeira fase do processo, conta, foi de “muito trabalho”, com necessidade de fazer contactos e ensaios para “validar alguns requisitos” que se relacionavam com a qualidade do produto e com o próprio sistema de produção. Na Algaplus, que se instalou na Ria de Aveiro por esta reunir “melhores condições ambientais para o desenvolvimento das espécies ao longo de todo o ano”,o sistema de produção é completamente limpo, ou seja, “para produzir as algas apenas utilizamos a luz do sol e nutrientes, incluindo o CO2, que vêm da água onde é produzido o peixe. É o melhor exemplo da economia circular.”
Com os resíduos a transformarem-se em recursos para a produção de algas, a produção torna-se totalmente sustentável. Nesse sentido, a promoção do desenvolvimento sustentável e a gestão eficiente de recursos naturais, uma das medidas da PAC para o período 2023-2027, passa a fazer também parte da equação.
A isso junta-se o aumento da competitividade, com maior incidência na investigação, na tecnologia e na digitalização, outro dos objetivos estratégicos da Política Agrícola Comum no referido período. “Estamos numa fase de redução de custos de produção e a trabalhar para a automação e a mecanização de processos”, adianta Helena.
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As algas não são todas iguais, mas fazem todas bem
Na Algaplus só trabalham com espécies nativas, que existam na nossa costa, e nunca introduziram qualquer espécie exótica. “Faz parte das boas práticas da agricultura marinha.” Mas desengane-se quem pensa que as algas são todas iguais. “Quando falamos de legumes, também não são todos iguais”, atira. Há três grandes grupos: as vermelhas, as verdes e as castanhas “e mais de 10 mil espécies identificadas.”
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Nesta empresa trabalham com espécies locais, espécies com interesse comercial e espécies que estejam autorizadas para consumo alimentar ou cosmética na União Europeia. Produzem cinco espécies principais (a nível europeu há 22 autorizadas para consumo), como a alface-do-mar, o chorão-do-mar, o cabelo-de-velha ou a nori do Atlântico, também conhecida, nos Açores, como erva-patinha, na qual apostam para o crescimento futuro da empresa. “As pessoas acham que isto é uma modernice por causa das estrelas Michelin mas, na realidade, há algumas zonas costeiras portuguesas, especialmente a norte e nas ilhas açorianas, que tinham, e algumas ainda mantêm, a tradição de manter algas na sua alimentação. Daí vêm estes nomes comuns”, defende.
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Comercializam algas produzidas pelos próprios, do cultivo à transformação e embalamento, onde se incluem os produtos da gama Tok de Mar, como a conserva da sardinha com algas e a flor de sal com algas, mas também, a pedido dos consumidores, de parceiros de países da União Europeia onde também se faz apanha sustentável. Entre eles estão o esparguete-do-mar, o wakame do Atlântico e a kombu que, “apesar de existirem em Portugal, não conseguimos produzir porque crescem em águas mais frias”.
As mais-valias para a saúde são comuns a todas as variedades, sendo a redução do consumo de sal uma das mais relevantes. Mas há outras: as algas são ricas em iodo – o consumo aconselhado por dia, por pessoa, deverá andar entre as cinco e as 10 gramas de alga, no máximo –, ferro, vitamina B12, potássio, magnésio, cálcio, vitamina E e fibra. “Ajudam a dar uma sensação de saciedade, por isso também são usadas em produtos dietéticos”, revela Helena.
Democratizar e fugir do nicho são intuitos da marca, que incentivam à educação do consumidor, de forma a facilitar o consumo de algas e a incluí-las mais facilmente na nossa alimentação, que conjuga “a dieta mediterrânica com a atlântica”. O preço é elevado? Na opinião de Helena, essa questão é “relativa”, uma vez que a dose diária recomendada é muito reduzida e o prazo de validade muito longo.
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A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC - Política Agrícola Comum que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.
“Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.
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