Da Terra à Mesa

A doce Cereja de São Julião é made in Alentejo

Cereja do Fundão
Cereja do Fundão

Muito doce, graças aos banhos de sol alentejanos, a Cereja de São Julião DOP, que apenas se produz nos concelhos de Portalegre, Marvão e Castelo de Vide, é ainda desconhecida em grande parte do país. Ricardo Reia dedica-se à produção deste fruto, que o seu pai iniciou há 40 anos. “Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante

Cereja no Alentejo? Sim, leu bem. É em Portalegre, na freguesia de São Julião, que se produz a Cereja de São Julião DOP, graças às "características edafo-climáticas da região", que "proporcionaram a existência e desenvolvimento de uma variedade local de cereja", conforme refere a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR). A área geográfica de produção inclui o concelho de Portalegre, mas também o de Marvão e Castelo de Vide, explicam.

Ricardo Reia, 49 anos, é produtor há duas décadas, mas o negócio começou com o seu pai, há quatro. “A história da cereja de São Julião começou com o meu pai, há cerca de 40 anos, quando esta variedade apareceu, de forma espontânea, aqui na propriedade. Houve uma alteração genética de outras variedades”, conta. E a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural sustenta: “este tipo de cereja é proveniente de cultivares resultantes do cruzamento da cerejeira brava (Prunus avium L.) com as variedades autóctones da zona de Portalegre”.

Cereja de São Julião

A partir dessa altura, para acompanhar o mercado, foi também necessário evoluir, já que “em calibre e em textura”, esta cereja “fica um bocadinho aquém daquilo a que o mercado nos obriga hoje em dia”, conta Ricardo.

Na propriedade maior, à qual se dedica, são “à volta de 12 hectares”, onde também há espaço para produzir outras variedades. Também o irmão, embora de forma independente, trabalha na mesma atividade. “Continuamos com o que o meu pai começou”, reforça, dando resposta a uma das medidas da PAC para o período 2023-2027, que se destina a atrair os jovens agricultores e a facilitar o desenvolvimento das empresas nas zonas rurais. “Felizmente, gosto muito do que faço”, atira. Vende-se, especialmente, no Baixo Alentejo e em Lisboa, quando há excessos de produção. “Localmente, aqui na região de Portalegre, até vendo pouco”, admite.

Cereja de São Julião

As conversas são como as cerejas, especialmente se forem doces

Com “todas as características” para se adaptar bem ao “micro-clima” local, a Cereja de São Julião DOP é “uma cereja de cor preta, com acentuada pigmentação na polpa, bem visível ao corte e à mastigação, de sabor muito doce, forma redonda, pedúnculo comprido e com peso médio entre 5 a 8 gramas”, diz a DGADR.

“A nossa cereja tem uns atributos diferentes porque estamos no Alentejo. Temos o sol alentejano.” Com temperaturas de primavera diferentes de outras regiões do país onde há produção de cereja, a Cereja de São Julião DOP tem a textura e cor mais acentuadas, o que se consubstancia, também, no paladar. “Na altura da maturação do fruto, temos um clima mais quente, o que nos dá mais açúcar residual na fruta. Muita gente prova e fica rendida, porque não estava habituada ao sabor”.

Também a localização, num “cantinho da Serra de São Mamede”, onde os invernos são mais rigorosos, com temperaturas muito baixas, permitem a produção deste fruto, que se desenvolve na primavera, “entre meados de maio e meados de junho”. Em condições normais, claro. Isto porque as características da cerejeira, “uma árvore sensível e propícia a doenças” e as alterações climáticas afetam o desenvolvimento da produção. “Temos tido muito mais dificuldades”, desabafa Ricardo. “Antigamente, há 20 ou 30 anos, o clima era igual: o inverno rigoroso, a primavera amena, o verão quente… agora não. Hoje temos 5ºC, amanhã temos 20ºC. O ser humano tem problemas de adaptação à temperatura. Num dia estamos de t-shirt, no outro de casaco e no dia seguinte ficamos doentes. Com as árvores é igual. É difícil para se adaptarem, mas temos que tentar minimizar esses danos.”

A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC - Política Agrícola Comum que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.

“Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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