Com receitas de família, há 50 anos que este restaurante de Cascais é guardião da cozinha tradicional
A fruteira bem recheada, logo à entrada, tornou-se cenário de foto para o Instagram, mas nesta casa de família, que há mais de 50 anos conserva a cozinha clássica, com produto de qualidade, serviço dedicado, etiqueta e decoração acolhedora, a fórmula de sucesso é a consistência. Localizado em Cascais, o Beira Mar é um dos “20 restaurantes que não passam de moda” presentes no guia oferecido esta sexta-feira, 8, com o Expresso
Os “Filetes de pescada com molho tártaro e arroz de berbigão” são um dos pratos-bandeira da casa. A receita, criada em 1973 pelo pai de Paulo Mendonça, continua a atrair numerosos comensais. “Todos os dias provo os filetes, o arroz e o tártaro, desmanchamos quatro a cinco pescadas diariamente e se não tiverem a qualidade necessária não servimos porque ao comer tem de ver as belas lascas dos filetes”, assegura.
A dois passos da baía de Cascais, mas numa zona mais recatada, junto à Lota, o Beira Mar é uma casa de família há 50 anos com a mesma gerência, onde Paulo Mendonça honra o receituário que o pai, António Mendonça, lhe deixou. A ementa centra-se nos peixes e mariscos da costa portuguesa e são muitos os pratos que se tornaram emblemáticos ao longo de meio século de existência como as imbatíveis “Ameijoas à Bulhão Pato” (€25,20), a “Parrilhada de mariscos” (€95) ou o “Arroz de marisco” (€62), para duas pessoas, a par de propostas de carne como o “Chateaubriand” (€67), para duas pessoas, que vale a pena apreciar. São propostas que marcam pela constância a cada vez que se provam. Nos doces, o destaque vai para a “Mousse de avelã” (€7,50).
Beira Mar
Com 52 lugares no interior e o mesmo número na esplanada, o Beira Mar conserva uma decoração solene, com paredes revestidas a madeira na fachada exterior e no interior e apontamentos com vitrais e lanternas coloridos. Há azulejos portugueses nas paredes, cortinas brancas, chão a cintilar, e, à entrada, uma fruteira bem recheada que se tornou motivo de foto de Instagram. Daniela, a empregada mais jovem, formada na casa, desespinha o peixe à moda antiga e emprata à frente do cliente. Visivelmente satisfeita por estar no Beira Mar, conhece bem toda a ementa e sabe aconselhar, aprendeu a ler os clientes tal qual como todos os empregados, na maioria de longa data, impecavelmente fardados com camisa branca e calças pretas.
Beira Mar
A personalização é levada ao rubro. “Temos clientes que ligam para reservar mesa e já sabemos qual a mesa e a pessoa que os vai servir, ou que nos pedem para prepararmos pratos que não estão na ementa”.
Apesar da ementa fixa, a sazonalidade dita algumas variações muito aguardadas pelos gastrónomos, como a caça, com as emblemáticas galinholas recheadas da casa, ou a lampreia, em arroz ou no forno. Tem ainda sugestões do dia que não constam da ementa ou curiosidades especiais como o “Pregado estalado” (preço ao quilo).
Nos vinhos, é Paulo Mendonça que faz a lista. Justifica “com os milhares de vinhos que provei, mas também porque desenvolvi uma relação com os fornecedores, que sabem que gosto de ter algo diferente para sugerir aos clientes” e são muitos aqueles que “ficam nas mãos” do anfitrião há várias gerações, entre avós, pais e netos.
Beira Mar
Com vários livros de cozinha portuguesa publicados, Paulo Mendonça passou os ensinamentos a Paulo Ramos, que chefia a brigada há 25 anos, mas continua a dar apoio à cozinha quando necessário. É ainda um “caçador” de produtos raros como “os molhinhos”, tripas de borrego confecionadas à moda do Alentejo, ou a lampreia fumada ao jeito do Minho. É ele quem vai ao mercado, é o primeiro a chegar e o último a sair do restaurante Beira Mar (Rua das Flores, 6, Cascais Tel. 214 827 380). O mais importante para Paulo Mendonça é “a confiança no produto, poder chegar à mesa e dizer: se não gostar não paga”.