Restaurantes no feminino: elas são as estrelas que fazem brilhar a cozinha portuguesa

Apesar de todo o histórico social, cultural e do património gastronómico perpetuado em centenas de restaurantes ao longo de todo o território nacional, são ainda poucas as mulheres no mundo da chamada alta cozinha. O reconhecimento para o trabalho no feminino vai crescendo e prova-se com a atribuição de diversos prémios e distinções. A edição 2021 do guia Boa Cama Boa Mesa, publicado em junho, atribuiu, pela primeira vez a uma mulher, o galardão de Chef do Ano. A eleita foi Noélia Jerónimo, que brilha em Cabanas de Tavira. Também pela primeira vez, o Prémio Carreira Boa Cama Boa Mesa teve um nome feminino: Lurdes Graça, fundadora restaurante O Manjar do Marquês.
Noélia Jerónimo
Nasceu em Tavira, a 3 de julho de 1971, e começou a trabalhar aos 14 anos. Servia às mesas numa pastelaria, onde conheceu aquele que seria o seu futuro marido. Trabalhou depois numa pizaria até decidir comprar a casa ao lado e abrir um restaurante: Noélia & Jerónimo, em Cabanas de Tavira, no Algarve. Autodidata, tem pelo trabalho uma paixão sem limites, em que a “sua” ria Formosa, em frente ao restaurante, é inspiração diária. “Sabor, sabor, sabor” é uma das expressões que gosta de usar e aplicar em tudo o que leva à mesa. O atum e as ostras estão entre os produtos que mais gosta de trabalhar, mas na ementa existem muitos clássicos e outras tantas recriações, do polvo trapalhão ao arroz de limão com robalo e amêijoas, dos filetes de peixe-galo às pataniscas de polvo, sem esquecer o já famoso arroz de carabineiros, que lhe têm valido a atribuição de um Garfo de Prata desde 2018. O mais importante, garante a Chef do Ano 2021, é “o amor e a entrega que se dedica a cada prato. É preciso gosto e vontade. São estes os ingredientes secretos em qualquer receita de sucesso”.
Lurdes Graça
Pela primeira vez, o Prémio Carreira Boa Cama Boa Mesa foi atribuído a uma mulher (ex aequo com Emílio Andrade). “Com uma vida profissional dedicada à restauração, destacando-se a longa, consistente e sólida carreira e o amplo reconhecimento pela comunidade”, Lurdes Graça, fundadora do restaurante O Manjar do Marquês, notabilizou-se pelo trabalho na cozinha. Hoje,aos 90 anos - Celebrados este dia 14 de dezembro - continua diariamente a trabalhar no restaurante O Manjar do Marquês, em Pombal, que fundou em 1986, com o marido, e é hoje um exemplo notável de resistência e de amor à cozinha. Apesar de todos os pratos gozarem de grande reputação, o arroz de tomate da Dona Lurdes é por muitos considerado “o melhor do mundo”. Em 2020, o restaurante tinha sido distinguido como "Mesa com Mérito".
Marlene Vieira
Em 2021, o guia Boa Cama Boa Mesa distinguiu o restaurante Zunzum, do qual Marlene Vieira é chef e proprietária, como restaurante Revelação. Abriu em pandemia, depois de mais de ano e meio de planeamento, com o intuito de dinamizar Santa Apolónia e de mostrar a criatividade de Marlene Vieira. Juntava dois conceitos, um mais informal e outro de fine dining, em nome próprio que ainda aguarda melhores dias para o sector da restauração. No gastrobar, Marlene Vieira apresenta “gastronomia com sabor português e técnicas do mundo”, destacando-se, na atual ementa “Filhós de berbigão à Bulhão Pato”, “míni pizza de sapateira e abacate”, a já famosa tartelete, que agora tem por base, o tártaro de atum, e ainda a “Feijoada de carabineiro” e “Perna de pato assada”. Mesmo nos dias frios, aproveite a esplanada com vista para o Tejo. A chef é um dos jurados do programa de televisão MasterChef.
Justa Nobre
No restaurante Nobre, que fundou com o marido, António, Justa Nobre, apresenta os sabores tradicionais da sua cozinha de influência transmontana, região onde nasceu. Aos pratos de conforto do dia, como as favas guisadas com entrecosto e o buffet de cozido à portuguesa domingueiro, juntam-se clássicos como a sopa de santola, o lombo de robalo de mar à Justa e a perninha de cabrito assada no forno. As participações em programas de televisão, livros de receitas e eventos gastronómicos fazem de Justa Nobre a mais mediática das chefs nacionais.
Michele Marques
Nascida no Brasil, Michele Marques adotou Estremoz como casa e é uma das responsáveis por esta nova dinâmica da cidade, graças à abertura do projeto Gadanha, que começou como mercearia, em 2009, e quatro anos depois cresceu e assumiu, também, a vertente de restaurante. “Olho com carinho para o país que me acolheu, especialmente para as suas gentes que, mesmo tão distintas, parecem-me sempre familiares e têm sempre um sorriso afável no rosto, o qual retribuo com gratidão. Costumo dizer que para um país tão pequeno, a sua diversidade é tão grande que às vezes, nem nos apercebemos”, escreveu no guia de sobremesas, que preparou para o Expresso, em 2020. Em Estremoz, a chef cria pratos consoante os produtos da estação e dá especial atenção às sobremesas. A garrafeira tem vinhos de Estremoz, com referências das 20 adegas da região.
Angélica Salvador
Natural do estado brasileiro de Goiás, chegou a Portugal com um curso de cozinha debaixo do braço e muita vontade de aprender. Depois de passar pelo Pine Cliffs, Vila Vita Parc, Tróia Design Hotel, Júpiter Lisboa Hotel e Cafeína no Porto, a vida profissional e pessoal acabou por levar Angélica Salvador a abrir, em 2018, o restaurante In Diferente, na cidade Invicta. Casada com Tiago Bonito, chef do estrelado Casa da Calçada, em Amarante, Angélica aposta numa “cozinha contemporânea portuguesa de autor”, que é servida num espaço de grande requinte e onde já experimentou algumas extravagâncias gastronómicas, que ajudam a dar notoriedade à chef brasileira e ao restaurante In Diferente. Provem-se, os já clássicos, “Carpaccio de polvo”, “Risotto de camarão e vieira”, “Arroz de lingueirão” e, claro, o “Pastel de nata desconstruído”.
Ana Moura
Foi a embaixadora da nova geração de mulheres à frente de restaurantes de fine dining ou de cozinha de autor. Ana Moura conta com experiências no prestigiado restaurante Arzak, situado no País Basco, na no Eleven, no Cave 23 e na Bacalhoaria Moderna. Este verão, mudou-se para Porto Côvo – região de origem da família materna - para abrir o restaurante Lamelas. Considera esta mudança “uma evolução natural” no respetivo percurso, “um desafio giro, em que mais uma vez vou ter de me adaptar conforme aconteceu noutros projetos”. À mesa chegam “pratos alentejanos com roupagem atual”, explica a jovem chef. Registem-se prato como Salmonete com migas de batata e pimentos assados e molho dos seus fígados, Açorda alentejana com pregado frito, Ensopado de grão com borrego e Arroz caldoso de coelho.
Saiba mais sobre outras mulheres que fazem brilhar a cozinha portuguesa no artigo: Estrelas da nossa cozinha, conheça 10 restaurantes fora dos circuitos urbanos, com referências a Teresa Ruão, Fernanda Castro, Maria José Sousa e Alice Marto, entre outras.
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