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Roteiro por Alenquer, entre vinhos e quintas quinhentistas

Roteiro por Alenquer, entre vinhos e quintas quinhentistas
JORGE FIGANIER CASTRO

Reza a história que a cultura da vinha neste concelho da Região Oeste remonta à época dos Descobrimentos. Volvidos mais de 500 anos, a produção vínica permanece indissociável a propriedades seculares, que, hoje, apostam na qualidade e tudo fazem com os olhos postos no futuro.

Pedro Moreira, escanção, conta que, muito do vinho produzido em quintas do concelho de Alenquer era transportado, no século XVII, dentro de cascos, em embarcações, através do rio Alenquer até à antiga várzea, com destino ao ancoradouro, então existente em Vila Nova da Rainha. Era aqui que aquele curso de água convergia com o rio Ota, e ambos desaguavam no Tejo, meio de comunicação usado para que chegasse a Lisboa, mais concretamente Xabregas, ponto de partida da distribuição para tabernas espalhadas pela cidade.

Com a passagem do tempo, mudou o transporte do vinho e, simultaneamente, a forma como é reconhecido pelo público. A qualidade do produto melhorou abismalmente e o zelo é, cada vez mais, indissociável à produção. Colher uvas de cada talhão, de acordo com o ponto de maturação, vinificar casta a casta ou selecionar criteriosamente a madeira utilizada nas barricas são apenas alguns dos exemplos desta grande mudança, e as quintas de Alenquer entram também neste novo capítulo vitivinícola.

West Side Stories

Comece esta viagem com uma visita personalizada pelo centro da vila de Alenquer, para absorver a narrativa histórica deste lugar. Conheça a igreja e os claustros do Convento de São Francisco, fundado por D. Sancha, filha do reio D. Sancho I, e indissociável à figura da Rainha Santa Isabel. Descubra quem foi o historiador e humanista nascido em Alenquer, no Museu Damião de Góis e das Vítimas da Inquisição. Contemple o interior do edifício da câmara municipal, inaugurada a 2 de janeiro de 1890 e que beneficiou de um projeto de arquitetura pré-existente da sua congénere de Lisboa. Provas de vinhos produzidos no concelho acompanhadas por produtos locais é o complemento perfeito para este passeio. Deixe-se conduzir pelas visitas guiadas, com a West Side Stories (Tel. 969853231), com mais temáticas a explorar!

Convento de São Francisco - Alenquer

Calcorreia-se a estrada, em direção à Quinta do Monte d’Oiro. Propriedade do século XVII, é comprada em 1986, por José Bento dos Santos. Engenheiro de formação e presidente da Academia Portuguesa de Gastronomia, inicia o seu contributo para o mundo do vinho, com dois hectares de vinha. A primeira edição de Syrah, da colheita de 1997, determinou o impulso desta casa. Desde então, não mais pararam! Hoje, a vinha totaliza 30 hectares e a vista para o monte situado mais a sul continua a seduzir ao final da tarde, graças à luz do solar. Em cada vindima, a apanha da uva é feita separadamente no que a cada parcela diz respeito, mesmo quando se trata da mesma casta. Na adega, o trabalho minucioso é igualmente levado a sério. O estágio de cada vinho tem lugar próprio, uma sala de barricas, onde o silêncio é ouro. Reúna os seus amigos e reserve uma visita à Quinta do Monte d’Oiro (Ventosa, Alenquer. Tel. 263766060), com degustação vínica. A prova base é composta por três vinhos, sendo um deles o Quinta do Monte d’Oiro Reserva tinto, acompanhada por produtos locais e regionais – queijos, enchidos, pão, marmelada e compotas (a partir de €30 por pessoa).

Quinta do Monte d’Oiro

A cerca de uma dezena de quilómetros de distância, fica a Casa Santos Lima. Trata-se de um negócio familiar fundada no final do século XIX, por Joaquim Santos Lima, reconhecido produtor e exportador de vinhos. A grande viragem acontece na década de 1990, quando José Luís Santos Lima Oliveira da Silva, bisneto do fundador, decide modernizar a empresa. A replantação de grande parte das vinhas, a comercialização dos primeiros vinhos engarrafados, em 1996, e a modernização da adega permitiram dar esse passo. A história é contada durante a visita guiada à adega (€10), no âmbito da oferta de enoturismo. Solicite um passeio de buggy (€14) ou de charrete (preço sob consulta), para conhecer a vinha, ou o piquenique (preço sob consulta) nesta paisagem deslumbrante. Termine com uma prova de vinhos (a partir de €6) da Casa Santos Lima (Aldeia Galega da Merceana, Alenquer. Tel. 263760621), cujas atividades estão concentradas na Quinta da Boavista.

Casa Santos Lima

A próxima paragem é a Quinta de D. Carlos. Esta propriedade fez parte do Morgado dos Cunhas, instituído no século XVI. A aposta nos programas inteiramente vinculados à degustação vínica está para breve, ou não estivéssemos perante um produtor de vinhos que vale a pena conhecer. Para já, está contemplado o aluguer por inteiro da casa (preço sob consulta), datada de 1650 e restaurada em 2004, por D. Frederico da Cunha de Mendonça e Meneses, Marquês de Valada e Conde da Caparica, atual proprietário e representante da 14.ª geração da família. O seu interior prima pela sua singularidade. É o caso da Sala Rothschild, com o seu pavimento constituído por azulejos verdes e azuis da Aleluia Cerâmicas, em Aveiro, e fileiras em pedra mármore, inspirado no chão do Château Lafite Rothschild, em França. Surpreendente é também a Sala da Tapeçaria, onde está uma das cinco tapeçarias, com o brasão da família, mandadas fazer no século XVI. O solar dispõe de dez suites e tem capacidade para 23 pessoas. O pequeno-almoço está contemplado no preço, mas as restantes refeições só são confecionadas mediante pedido prévio. A harmonização é feita com os vinhos produzidos a partir das uvas vindimadas nas vinhas, de 44 hectares, da Quinta de D. Carlos (Meca, Alenquer. Tel. 914909013), onde a Cabernet Sauvignon ganhou um estatuto maior.

Quinta de D. Carlos

Para quem prefere a paisagem idílica, que tal a nova unidade de alojamento instalada no sopé da serra de Montejunto? Chama-se Sóis Montejunto Eco Lodge, é constituído por oito domos geodésicos, dos quais quatro estão destinados a famílias e outro tanto a casais. Todos têm casa de banho e kitchnette equipada com o essencial, para um fim de semana ou umas férias subordinadas ao descanso. Acorde, pela manhã, com um pequeno-almoço à medida e vista privilegiada, em forma de anfiteatro, para esta extensão montanhosa. Aproveite a sauna e o jacuzzi, sem descurar a piscina exterior, se o tempo estiver de feição, e parta à descoberta do que esta terra tem para dar. Prove os queijos da serra de Montejunto e junte o pão acabado de cozer, feito com cereais moídos nos moinhos da vizinhança. Experimente o mel local e o azeite dos olivais da região. Acompanhe com um garrafa de vinho de produtores de Alenquer e outros da região dos Vinhos de Lisboa. Explore a Natureza, que rodeia Sóis Montejunto Eco Lodge (Caminho do Fole, Alequer. Tel. 263789105).

SÓIS Montejunto Eco Lodge

O Boa Cama Boa Mesa realizou este roteiro enoturístico a convite dos Vinhos de Lisboa e da Câmara Municipal de Alenquer.

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