Com noivas saltitantes e objetos inusitados, palácio histórico de Lisboa transforma-se em restaurante-teatro
Palácio do Grilo, em Lisboa
“Para algo completamente diferente”, passe o portão ladeado dos muros altos de uma propriedade localizada junto ao Beato, em Lisboa. Encontre um edifício do século XVII e faça parte, sem preconceitos, de toda uma cenografia enquanto almoça, janta ou toma uma bebida. Bem-vindo, está no renovado Palácio do Grilo.
O criador original do Palácio foi D. Pedro de Bragança, grande rival do Marquês de Pombal, sonhou-o como um “não-lugar que permite à alma voar, como tão bem deveria”. Será, aos dias de hoje, “o único exemplo de um palácio particular que chegou até nós no estado original”, segundo o historiador José Sarmento de Matos.
350 anos depois, numa rua insuspeita, entramos no reino imaginário de D. Pedro de Bragança, primeiro Duque de Lafões, descendente ilegítimo do Rei D. Pedro II, para viver uma experiência artística peculiar. A qualquer hora do dia senta-se à mesa, escolhe o que lhe apetece beber ou comer e eis que, a seu lado, surgem noivas saltitantes, um serviço de carrinho de mesa com uma cabeça de javali, figurinos que idolatram e beijam bustos de gesso, performances que nos tiram da zona de conforto, misturando teatro, dança, música, objetos inusitados e naturalmente algum “nonsense”. A abordagem é ligeiramente excêntrica, mas nunca incomodativa, sendo antes uma vivência cultural irresistível.
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Palácio do Grilo, em Lisboa
Palácio do Grilo, em Lisboa
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A música que se deixa ouvir é do mundo, com muitas referências francesas e italianas, por vezes com alguma carga dramática. Todo o lugar é configurado como um palco de teatro. O interior do Palácio do Grilo é apresentado como “sinónimo de esquemas decorativos em torno da diversidade cultural e da erudição” e os conjuntos de murais de Cyril Wolkmar Machado e pinturas dos séculos XVIII e XIX nas diferentes salas temáticas do palácio, tais como a sala da Academia das Ciências, a sala de Vénus ou a maravilhosa sala chinesa são prova disso. Toda a cenografia e mobiliário, de madeira maciça de eucalipto e carvalho, de Portugal, foram desenhados à medida para o projeto, jogando com formas geométricas que pontuam de contemporaneidade este património com mais de três séculos.
Palácio do Grilo, em Lisboa
O projeto do Palácio do Grilo é um trabalho em progresso, tanto ao nível da evolução das artes performativas como da oferta gastronómica. Tem um horário alargado, estando aberto todos os dias entre as 11h30 e as 01h00, servindo de forma ininterrupta, ao longo do dia, oito aperitivos, que também fazem parte da ementa acabada de estrear. “Burrata & Abóbora assada” (€12), com picles de uva seca e salva estaladiça uma opção para partilhar, “Arco-íris de cenouras bebé e funcho” (€6), assados no forno, acompanhados por iogurte picante, “Conté de Borgonha 36 meses” (€9), “Polpette di Bollito" (€8), “Kabuli” (€7), hummus de grão servido com folhas de figueira e pepino, e ainda “Presunto Reserva 12 meses e alcaparras grandes” (€8) e “Pata Negra 27 meses” (€12), uma seleção de chouriço e presunto ibérico, chouriço de Barrancos e paio do lombo.
Ao almoço e ao jantar, acrescentam-se outras sugestões. Nas entradas encontra a “Salada de funcho e açafrão” (€8), as “Vieiras de curcuma” (€11), o “Lagostim em rum escuro” (€11) ou o “Gaspacho ibérico romano”, com amêndoas (€8). Entre os pratos principais conta com o “Lombo de borrego de leite assado” (€21), confecionado de cabeça para baixo, com pistáchio paloise, tubérculos de outono assados com mel no forno e batatas, fritas em banha de ganso, “Siracus peixe-espada” (€21), com passas e chutney de limão, ainda “Bourguignon” (€20), uma bochecha de vaca braseada com migalhas de pão de rábano e puré de aipo, e uma proposta vegetariana, “Romãs e Legumes assados” (€16), com lentilhas pretas e melaço de romã. Quando se trata de sobremesas entra novamente “num mundo de fantasia”. Escolha entre “Looney Tunes cacto”, um sorbet de figo da Índia e areia de amendoeira, “Borboleta negra”, crème brûlée de chocolate negro, flores de ervilha borboleta de Java, ou “Anis de pêra”.
Palácio do Grilo, em Lisboa
O público tem livre acesso ao jardim, assim como a um conjunto de salas por onde pode vaguear. Nas áreas do jardim, ainda a ser melhorado, já é possível comer ou tomar uma bebida a qualquer hora do dia. A carta de vinhos inclui apenas referências biológicas de pequenos e médios produtores. Destaque para os cocktails (€12) “Macaco Pirata”, “Bobo da Corte” e “Cão Loko”, assim como para os sumos naturais (€6) “Morangoja” (morango + maracujá), “Libre” (limão + gengibre) e “Carrapple” (cenoura + maçã). Em breve haverá também piqueniques no Palácio, quem sabe musicado pelo canto do grilo, inseto pelo qual D. Pedro de Bragança tinha especial fascínio, sendo inclusive apelidado “do Grilo”, tal era a sua coleção destes espécimes.
Palácio do Grilo, em Lisboa
Os espetáculos do Palácio do Grilo decorrem entre as 12h00 e as 15h00 e entre as 17h30 e a meia-noite. Nestes momentos, a alma volta a voar como D. Pedro de Bragança tanto desejava quando desenhou o “palácio dos sonhos”, juntamente com o arquiteto Eugénio dos Santos. Em 2022, o arquiteto francês, Julien Labrousse, proprietário e diretor de dois teatros parisienses, Elysée Montmartre e Le Trianon, especialista na criação de espaços culturais, abre o Palácio do Grilo a todos os públicos. Diverte-nos e diverte-se a confrontar a importância da realidade, contornando as regras da vida quotidiana. A Labrousse junta-se um parceiro, o investidor Leonard Degoy, aristocrata responsável, por exemplo, pela criação do Riad de Tarabel, alojamento chique de Marraquexe.
Palácio do Grilo, em Lisboa
No Palácio do Grilo(Calçada do Duque de Lafões, 1, Lisboa. Tel. 910440942), faça a fantástica revisitação das práticas sociais da vida do dia-a-dia e desligue, distraindo temporariamente a mente ao entrar neste universo onírico.
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