Estrelas da nossa cozinha, conheça 10 restaurantes fora dos circuitos urbanos
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Estes 10 restaurantes são guardiões do melhor que a cozinha portuguesa, tradicional tem para oferecer. Espaços com histórias que revelam percursos de dedicação à cozinha, receitas ancestrais apuradas com o tempo, produtos de excelência e, sobretudo, respeito e dedicação à causa gastronómica.
Fora dos circuitos urbanos, estes 10 restaurantes - poderiam ser muitos outros - são guardiões do melhor que a cozinha portuguesa, tradicional tem para oferecer. Espaços com histórias que revelam percursos de dedicação à cozinha, receitas ancestrais apuradas com o tempo, produtos de excelência e, sobretudo, respeito e dedicação à causa gastronómica.
O que os torna verdadeiramente especiais? A importância do seu trabalho no desenvolvimento da região em que se inserem, o facto de serem “embaixadores” da melhor gastronomia, através do receituário e dos produtos da região que utilizam, ajudando ao seu conhecimento pelo público e ainda, o facto de atravessarem uma ou mais gerações de clientes tornam-nos especiais, a par da qualidade e regularidade da cozinha e do serviço, a consistência e longevidade nas ementas apresentadas.
Restaurante Caneiro
Rui Duarte Silva
Caneiro (Cabeceiras de Basto) A história deste restaurante já vai longa – falta pouco para completar quatro décadas –, mas quem não conhece pode deixar-se enganar pela fachada contemporânea e elegante, que esconde uma cozinha comprometida com a tradição. Em dois ambientes, um mais virado à paisagem, verdejante, típica da zona, outro voltado à montra de vinhos, no restaurante Caneiro servem-se diversos pratos locais e regionais, que remetem para outros tempos. A constância na cozinha e na sala trazem de fora muitos comensais, que não dispensam as batatas da aldeia, o cabrito com grelos, batatas e arroz de forno, divino, a tradicional posta, mas também o arroz de cabidela e as tripas. A ementa dirige-se ainda até ao mar, em abordagens como o recheio de marisco, de entrada, a rivalizar com as costelinhas de porco, a açorda de gambas ou o arroz de tamboril. Nas sobremesas brilha o pecado da avó. Destaque ainda para a incrível garrafeira, que numa das salas do restaurante revela apenas uma parte do extenso espólio de néctares portugueses e estrangeiros, estrelas de regulares jantares temáticos. Preço médio: €20 EN 206, lugar de Caneiro, Arco de Baúlhe, Cabeceiras de Basto. Tel. 962895277
O Victor (Póvoa de Lanhoso) A generosa posta de bacalhau, alto, assado na brasa, bem regado com azeite, encimado por abundante cebola e na companhia de saborosas batatas a murro é uma das imagens de marca deste recanto pleno de histórias. Mas a mais emblemática é Víctor Peixoto, o cativante anfitrião. Já ultrapassou os 80 anos, quase 50 passados à frente do espaço, que é também a casa onde nasceu. Atualmente, filhas e genros tratam da cozinha e da sala, enquanto as narrativas de ontem e de hoje são contadas pelo proprietário, que as relata com o prazer de quem não se imagina a fazer outra coisa que não receber de braços abertos. Sendo local de romaria pelo “fiel amigo”, o restaurante O Victortem outros sabores da aldeia a merecer atenção, como o cabrito, por encomenda, e a costeleta de vitela. Nas sobremesas, não dispense a torta de laranja e o leite-creme queimado, herança de antigamente. As três salas oferecem a candura do campo numa atmosfera especial e bucólica, que ao fim de semana, pela elevada afluência que anima a pequena aldeia de São João de Rei, exige reserva antecipada. Preço médio €20 São João de Rei, Póvoa de Lanhoso. Tel. 253909100
Casa de Souto Velho (Chaves) Antes de partir em direção a esta casa de família, ligue sempre e, de preferência, reserve antecipadamente o que quer comer. À sua espera terá um casal que trata, não só a confeção dos pratos tradicionais e dos vinhos, mas também da origem dos produtos: legumes e animais crescem nas imediações, criados pela D. Eufrásia e o Sr. Osvaldo, e é também isso, a par da boa mão na cozinha, que faz desta experiência única em sabor e acolhimento. Galo estufado, açorda de costelinhas, arroz de enchidos ou de cabidela, mas a joia da Casa de Souto Velho é o cozido à D. Eufrásia. Leva pé de porco, orelha, peituga, pernil, vitela, galo ou galinha, uma variedade de enchidos e hortaliças. “As únicas coisas que não são caseiras são a vitela, o sal e o arroz”, comenta a cozinheira. Preço médio: €40. EN 311, 12, Souto Velho, Anelhe, Chaves. Tel. 276999250
Toca da Raposa
Toca da Raposa (São João da Pesqueira) É em pleno coração do Douro, território de contrastes que transcendem em muito o recorte intenso da paisagem, que se ergue este monumento à gastronomia da região. Um restaurante de rua capaz de representar tão naturalmente a cozinha local elaborada a partir de receitas antigas que, na sua simplicidade de ingredientes e confeções, procuram apenas destacar a qualidade do produto. A Toca da Raposa enquadra uma excelente garrafeira, como não podia deixar de ser, também montra do melhor e mais variado que se produz em socalcos vizinhos. Nesta toca estão reunidos os elementos para sentir esse lado genuíno e caloroso que, num desembaraço experiente, reflete séculos de história à mesa. Maria da Graça, no calor da cozinha, e a filha Rosário, conhecedora da arte de bem receber, têm a seu cargo a importante tarefa de preservar o receituário tradicional. Se for sua época, comece com um simples tomate coração de boi. Prossiga como quiser, sabendo que a alheira caseira, os milhos, o polvo na brasa ou assado e o cabrito são incontornáveis. Preço médio: €25 Rua da Praça, Ervedosa do Douro, São João da Pesqueira. Tel. 254423466
Cozinha da Terra
Cozinha da Terra (Paredes) Aqui se definem os preceitos do que podia ser a alta cozinha tradicional. Apurando antigas receitas de família com verdadeiro amor pela gastronomia, Teresa Ruão é a alma da Cozinha da Terra, que ocupa uma antiga casa agrícola do século XVII. Foi aqui que teve o primeiro contacto com a magia de transformar produtos do campo em apurados pratos, ainda menina. Mas foi muito mais tarde que decidiu fazer deste espaço uma cozinha aberta ao mundo. Há muito de nostálgico mas pouco de melancólico na cozinha desta guardiã das tradições. Revelando o coração da casa, é por ela que se entra no restaurante elegante, com a lareira acesa nos dias frios do ano. A atmosfera, singular e requintada, conduz a uma viagem a longos almoços de domingo. Do quintal, como antigamente, provêm muitas das ervas aromáticas e legumes a que mão autodidata e certeira confere novo interesse. Antes de se deixar ficar à conversa com a anfitriã de excelência, prove os pastéis de massa tenra e a bola de carnes. O bacalhau no pão, o cabrito e a vitela assados em forno a lenha são imaculados. Termine com o incrível queque de noz. Preço médio: €35 Largo da Herdade, 8, Louredo, Paredes. Tel. 255780900
Vallécula
Vallécula (Guarda) Será, literalmente, impossível atribuir apenas um mérito a este restaurante e à dupla Fernanda e Luís Castro, fundadores e, respetivamente, cozinheira e chefe de sala deste templo de bem comer. Se há que reconhecer o mérito de ter colocado a povoação de Valhelhas no mapa, é obrigatório falar também da genialidade criativa da cozinha, que, usando apenas e só a produtos locais, soube inovar na tradição, arriscando propostas atrevidas, sempre com resultados saborosos e surpreendentes. Luís Castro assume-se como um cavalheiro, sempre disponível para uma sugestão de harmonização ou para ler nos clientes qual o rumo que o palato quer seguir. Mas é pela comida que se reconhece o mérito do restaurante Vallécula, das entradas que enchem os olhos e fazem querer provar tudo, como os patês e a perdiz finamente desfiada, os queijos de pasta soberba ou o pão acabado de fazer. Depois há os pratos principais, adaptando-se ao correr das estações e que podem incluir o javali, o galo ou o cabrito temperados e cozinhados com mão certeira. Memoráveis doces caseiros. Preço médio: €35 Praça Doutor José de Castro, 1, Valhelhas, Guarda. Tel. 275487123
Rei dos Leitões
Rei dos Leitões (Mealhada) O objetivo de António Paulo Rodrigues, com o empenho de Licínia Ferreira, elevou o restaurante ao patamar de referência nacional e conquistou, em 2021, um Garfo de Platina, atribuído pelo guia Boa Cama Boa Mesa. O espaço, cada vez mais elegante e confortável, cresce na oferta, do pairing enogastronómico ao serviço de excelência. Entra-se a vencer no couvert, com o pão e o azeite da região, manteiga das Marinhas, queijo de Azeitão e vinagre do Rei. A equipa de cozinha sabe que o leitão à Bairrada é intocável e sempre a razão maior para a visita, mas espevitam-se os sentidos com outras carnes de superior qualidade, peixes e mariscos frescos, e novas combinações. Dos ovos rotos trufados ao boqueirão em salga de citrinos, à caldeirada de línguas de bacalhau e à panacotta de fígado de tamboril, importa arriscar. Acrescente-se, na oferta do restaurante Rei dos Leitões, a nova esplanada, as duas salas privadas e o clube Círculo Privado, as 3500 referências vínicas (cerca de 1200 da Bairrada) e a loja de produtos autóctones. Preço médio: €40. Av. da Restauração, 17, Mealhada. Tel. 231202093
O Manjar do Marquês
Rui Duarte Silva
O Manjar do Marquês (Pombal) Tempos houve em que ir do norte para o sul exigia que a EN 1 fosse o caminho escolhido. A viagem começava sempre de maneira a que a hora da refeição coincidisse com a passagem por Pombal e se fizesse uma paragem neste restaurante. Depois vieram as autoestradas, as vias com nomes de complementar ou principal e O Manjar do Marquês lá ficou, heroico, à espera de pé de dias melhores. Nunca cederam à tentação de baixar a qualidade nem a deixarem de dar atenção aos que se mantiveram fiéis. Maria de Lurdes, que abriu a casa em 1986 com o marido, só deixa entrar na cozinha os melhores produtos e, aos poucos, nota-se a procura dos clientes e o parque de estacionamento a ficar todos os dias mais composto. O arroz de tomate já ganhou fama internacional, bem como a posta de bacalhau frita ou os pastéis de bacalhau, generosos em tamanho e em “fiel amigo”. São um exemplo de resistência e uma caso sério de amor à gastronomia nacional, com o mérito de se assumirem como embaixador gastronómico desta região e, até, de Portugal. Preço médio: €30. IC2 (EN 1), km 151, Pombal. Tel. 236218818
Tia Alice (Fátima) Os olhos verdes da Tia Alice, honestos e autênticos, estão à medida da comida tradicional e regional que lhe sai das mãos desde 1988. Neste restaurante impecável, a confeção é uma declaração de amor e brio, e por isso o mérito é em dobro. Alice Marto completa 85 anos em março e continua atrás do fogão, motivada pelo bem que os seus cozinhados de eleição fazem ao apetite e ao espírito. Orgulhosos da bela casa que aqui se fez, os seis filhos auxiliam à operação nas três salas com paredes em pedra do restaurante Tia Alice. O jardim fica para os dias de calor. Desde a manteiga de alho e coentros, o queijo de ovelha amanteigado Serra da Estrela e o presunto Ibérico Bolota Maldonado que se abre o sorriso. E o pão cozido no forno a lenha desaparece num ápice... A canja de galinha do campo, domingueira, e as sopas caseiras assentam sempre bem. Aconchegue com as açordas, a vitela e a chanfana assadas no forno, e sobretudo com o emblema da casa, o bacalhau gratinado ou a versão com camarão. Que a luz guie até ao pudim de ovos ou ao bolo do convento, e pode vir um Porto 10 Anos. Preço médio: €35 Avenida Irmã Lúcia de Jesus, 152, Fátima. Tel. 249531737
Taberna do Adro (Elvas) “Troquei tudo por tachos e panelas e não estou arrependida. O meu lema é não estar na moda.” Maria José Sousa é uma cozinheira de mão-cheia e de convicções. Há 21 anos quis abraçar a “comida de pobre quando ninguém a queria, salvar as migas” e prestigiar a gastronomia alentejana. Com a ajuda de José e Luís Sousa, filho e marido, alcançou-se o intento com mérito e esta casa tornou-se num símbolo regional. Preserva a zona da lareira e imensas loiças utilitárias antigas, candeeiros a petróleo, almofarizes e talegos. Tem que se “acarinhar as pessoas que aqui se deslocam”. Escolhem-se as entradas a partir de uma bandeja, havendo tiborna, pimentos assados, queijo de ovelha, o pastelão e a paiola de porco preto. O prato mais famoso do restaurante Taberna do Adro é a galinha tostada, que é cozida, desfiada e envolvida num piso de salsa e alho. Serve com três tipos de migas: de couve-flor, tomate e batata. As carnes de porco de alguidar, o cachaço de porco alentejano assado no forno e os pezinhos de coentrada são também apreciados. No fim, sericá e a ginjinha, porque aqui é “sempre dia de festa”. Preço médio: €15. Largo de João Dias de Deus, 1, Vila Fernando, Elvas. Tel. 268661194
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