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Castelo Rodrigo, a Aldeia Histórica onde as paredes guardam segredos

Castelo Rodrigo, a Aldeia Histórica onde as paredes guardam segredos

Cada detalhe, nas casas em redor do castelo, conta uma história. Lendas, tradição e gastronomia são razões adicionais para uma visita a Castelo Rodrigo, uma das 12 Aldeias Históricas de Portugal

José Maria Nunes tem um sentido de humor particular, apesar dos 71 anos
que aparenta não ter. Correu mundo, fez quase de tudo, mas regressou à terra que o viu nascer, para olhar com mais atenção cada pedra, cada relevo e cada detalhe que as casas e as ruas, onde brincou em pequeno, escondem dos olhares distraídos. Esmeralda, também nascida na localidade, partilha com ele o riso fácil e o gosto pela terra que se prontificam a explicar a quem quer que seja que atravesse a Porta do Sol. Ultrapasse então o arco deste local que marca a entrada na zona das muralhas da Aldeia Histórica de Castelo Rodrigo em direção à Praça do Castelo e procure no posto de turismo por informações detalhadas para começar o passeio. Fique a saber que as primeiras referências ao castelo constam no foral de 1209 de Afonso IX de Leão. Rodeado de muralhas tem como atrativos principais as duas portas em arco quebrado, com os nomes do Sol e da Traição, e outra em arco de berço no largo de São João. O castelo é a principal atração turística da aldeia, que no dia 28 de agosto recebe a animação do ciclo "12 em Rede - Aldeias em Festa", com atividades para toda a família.

Castelo Rodrigo
Paulo Chaves

Na Praça do Castelo, a importância histórica e até estratégica e militar são evidentes. Os vestígios mantidos falam por si, bem como o Cruzeiro da Independência, ou a cisterna que atrai os visitantes. Mas diz José Maria Nunes, os segredos escondem-se logo na rua da Sinagoga, nas fachadas das casas dos poucos que resistiram a por ali ficar. Algumas das portas são marcadas por três cruzes, sinal discreto de que em tempos, por ali, habitaram novos judeus. Atente, depois, no passeio pelas ruas, com cuidado para não tropeçar, que algumas das casas apresentam duas portas, e que esse é mais um dos segredos de Castelo Rodrigo, escondido aos olhos de quem por ali passar. Explica José Maria Nunes que a porta maior, de tamanho normal, estava sempre pronta a abrir e a deixar entrar os amigos. Já a mais pequena era para quem o proprietário não conhecia e, desta forma disfarçada, os obrigar a fazer uma vénia ao anfitrião quando entravam. Um bom exemplo desta particularidade situa-se ao lado da cisterna. Atente, ainda, às janelas manuelinas que alguns dos edifícios de fachada quinhentista ainda ostentam. São a prova de que esta era uma povoação de maior importância, nos idos do século XVII.

Castelo Rodrigo
Paulo Chaves

O amor a Ofa

O poço-cisterna, com duas estruturas arquitetónicas diferentes, uma em arco quebrado de estilo gótico e a outra com o arco em ferradura de uma sinagoga judaica, são motivo de paragem. José Maria Nunes não tem certezas da origem, mas conta que podem ter sido os romanos, se bem que há quem diga que já ali estava antes de Cristo nascer. Por confirmar está também a origem das sepulturas em pedra primitiva, visíveis na igreja medieval do século XII, a caminho do pelourinho da igreja. Quando vir a placa a dizer rua da Misericórdia, desça, recordando que ali funcionou a cadeia, passe pelo largo de São João, aonde voltam a aparecer as casas com cruzes sobre as portas e chegue às ruínas do palácio. Virado a norte há um buraco que, entre os mais velhos, se garante ser o princípio de um túnel que levava ao convento de Santa Maria de Aguiar. José Maria Nunes recorda que em pequeno se contava uma lenda a batizar este buraco como o "calça botas", justificado por uma senhora da terra, ao ir buscar água, ouvir repetidamente uma voz estranha a avisar: “Espera aí que já estou a calçar as botas”. A partir das muralhas, veja no horizonte a serra da Marofa. Antes de pensar no borrego, a especialidade gastronómica da aldeia, oiça a lenda que dá nome à serra. Fala-se que um cavaleiro cristão se apaixonou pela filha de um rico judeu, refugiado ali, em Castelo Rodrigo. Tinha, a donzela, o nome de Ofa e acabou por dar o nome à serra, já que, de cada vez que o cavaleiro a ia ver, dizia ir levar o seu “amor a Ofa”, o que originou o nome Marofa.

Castelo Rodrigo

Borrego da Marofa

No Cantinho Café encontra uma esplanada com vista para a serra e uma cerveja artesanal, que ganhou o nome graças às coordenadas topográficas de Castelo Rodrigo: 40° 52′ 37″'N, 6° 57′ 54″'W. Prove com moderação e desça até ao restaurante Arco Íris (Tel.: 271313207) onde é servido o borrego criado na serra da Marofa, com características especiais, devidamente acompanhado por batatas e legumes. Fique ainda a saber que as amêndoas torradas e as agridoces da loja Sabores da Geninha (Tel. 969586694) já ganharam prémios; e que na Adega Castelo Rodrigo (Tel. 271319220) são produzidos vinhos da casta Síria, única, e que deu a conhecer o Pinking, um rótulo aclamado pela crítica, graças às características singulares. Na adega vendem ainda outros produtos
regionais.

Loja Sabores da Geninha

Para uns dias de lazer, com direito a um mergulho refrescante na piscina, a Casa da Cisterna (Tel.: 271313515) é um alojamento que nasceu da reconstrução de três edifícios dando origem a oito quartos e duas suites. Para sentir mais de perto a história e o que é viver numa zona muralhada, opte pela Casa da Amendoeira (Tel.: 969774085), apenas com quatro quartos, que prestam homenagem à música, com géneros blues, bossa nova, flamenco e fado a darem nome aos alojamentos. Não se iniba de tirar uma fatia de bolo acabado de fazer, uma pequena mordomia diária por parte dos proprietários.

Casa da Cisterna

Este artigo foi adaptado do Guia das Aldeias Históricas de Portugal, oferecido com o Expresso, no dia 30 de maio de 2021

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