Levando em consideração os processos de trocas culturais e reinvenção de identidades retratados no documentário e as experiências de vida entre os personagens, a interpretação do fado “Barco Negro” pela voz da cantora japonesa Kumico Tsumori contempla mais um tema da banda sonora no filme.
A primeira versão do fado “Barco Negro”, mundialmente conhecido na voz da portuguesa Amália Rodrigues, na verdade é brasileira, tem como título “Mãe preta”, assinada por Caco Velho e Piratini e gravada pelo Conjunto Tocantins em 1943. É um retrato do Brasil esclavagista.
Censurada pela ditadura portuguesa, a música foi adaptada e “Barco Negro” ganhou nova letra de David-Mourão Ferreira, e gravação emocionada de Amália Rodrigues, em 1954.
Natural de Osaka, a cantora Kumico, a convite do realizador Miguel Gonçalves Mendes, interpreta a terceira versão deste fado, agora em japonês, trazendo à tona as heranças portuguesas ainda presentes no Japão, resquícios de um período em que o país sofreu grandes transformações influenciadas pelo contacto com o Ocidente, seja na culinária ou na língua, com mais de 60 palavras de origem portuguesa ainda utilizadas no quotidiano japonês.
Barco Negro
De manhã, temendo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.[Bis]
Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:
São loucas! São loucas!
Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo.[Bis]
No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.
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